terça-feira, janeiro 29, 2008

 

Iracema na América



Conheci (ou percebi) esta canção na voz da Bebel, no songboog do Chico (1999), e me apaixonei por ela. Chico já havia gravado no CD As Cidades (1998) e, depois, no Chico ao vivo (1999). Engraçado como algumas coisas passam despercebidas... Uma história simples, delicada, expressiva.
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Em seu site, lê-se:

Nota sobre Iracema voou
Folha de São Paulo


Em (mais) uma homenagem clara a Tom Jobim, diz de uma tal Iracema do Ceará, que voou para seu anagrama América, "não domina o idioma inglês", "tem saído ao luar com um mímico" e "ambiciona estudar canto lírico".

É uma brincadeira (triste) em torno da renitente fuga de brasileiros da terra natal – o próprio Jobim foi um desses –, e aqui se revela a intenção de Chico em "As Cidades": o disco quer tratar de desterritorialização, da perda de identidade de brasileiros malparados no mundo globalizado. E quer, assim, "reabrasileirar" o Brasil.

Folha de São Paulo 31/10/98
Pedro Alexandre Santos com colaboração de Fabio Schivartche


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anagrama [Do lat. mod. anagramma < gr. anagrammatismós < gr. anagrammatízein, ‘transpor letras’]
Substantivo masculino
1. Palavra ou frase formada pela transposição das letras de outra palavra ou frase. Ex.: Belisa (de Isabel); Soares Guiamar (pseudônimo de Guimarães Rosa); “Pelo seu próprio conteúdo, a Menina e Moça [de Bernardim Ribeiro] não pode deixar de ter um fundo autobiográfico, de ser, pelo menos em parte, um roman à clef, como sugerem numerosos anagramas transparentes: Binmarder (Bernardim), Aônia (Joana), Avalor (Álvaro), Arima (Maria), Donanfer (Fernando), etc.” (Antônio José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, p. 239); “E dizem que a Iracema do romance de Alencar é o anagrama de América.” (João Ribeiro, Curiosidades Verbais, p. 76).
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renitente [Do lat. renitente]
Adjetivo de dois gêneros
1. Que renite; teimoso, obstinado, pertinaz, contumaz.

. Iracema voou
Chico Buarque/1998


Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida
Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá

Tem saído ao luar
Com um mímico
Ambiciona estudar
Canto lírico
Não dá mole pra polícia
Se puder, vai ficando por lá
Tem saudade do Ceará
Mas não muita
Uns dias, afoita,
Me liga, a cobrar:
_ É Iracema, da América
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Voz: Bebel Gilberto
Piano & arranjo: Gilson Peranzzetta
Baixo: Jorge Helder
Bateria: Élcio Cáfaro
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Voz & violão: Chico Buarque
Violão & arranjo: Luiz Claudio Ramos
Piano: João Rebouças
Baixo: Jorge Helder
Bateria: Wilson das Neves
Cordas: violinos, violas & cellos
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domingo, janeiro 27, 2008

 

Cárcamo



Quando escrevi o post sobre a capa da EntreLivros, ilustrada pelo Cárcamo, o Bap me disse: (...) “o Cárcamo é um mestre. Foi meu professor de aquarela.” (...). Deixo aqui, então, um pouco deste talentoso chileno e sua obra:

Gonzalo Cárcamo é ilustrador, caricaturista, artista plástico com longa experiência na técnica da aquarela. Realizou algumas exposições de pintura no Brasil, Espanha e em sua terra natal, Chile.

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Aquarelas:
Lago Licanray – Chile
Amanecer en Licanray – Chile
Antuco – Chile
Bahia de Talcahuano – Chile
Obs.: para visualizar em tamanho maior, basta clicar na aquarela.
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Chegou ao Brasil (São Paulo) em 1976, com 22 anos. Nessa época, ele já dominava os segredos da pintura em aquarela e óleo. Começou a trabalhar em agências de publicidade e produtoras de desenho animado como Walt Disney. Em 80, realizou sua primeira exposição de aquarelas, que retratava a cidade histórica de Ouro Preto. Suas primeiras caricaturas foram publicadas, em 1986, no Pasquim. Seu traço peculiar lhe rendeu convites para colaborar com jornais e revistas de todo o Brasil. No ano 2000, lançou seu primeiro livro como autor: “Modelo vivo, natureza morta”, pela Editora Paulus. Uma história comovente, contada apenas com imagens.
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Aquarelas:
Barco pesqueiro – Paraty
Entardecer no Perequê – Paraty
Beco do Propósito – Paraty
Reflexos no Perequê – Paraty

Rua Marechal Deodoro - Paraty
Janelas do Forte – Paraty
Rua da Ferraria - Paraty

Barcos no Perequê – Paraty
Rua inundada – Paraty
Rua do Comércio – Paraty
Obs.: para visualizar em tamanho maior, basta clicar na aquarela.
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“Fui transportado no tempo quando percorri as ruas, atento para manter o equilíbrio ao caminhar sobre as pedras pé-de-moleque, em períodos inundadas pela invasão da maré e habitadas por minúsculos caranguejos”. Assim Gonzalo Cárcamo descreve um pouco do que sentiu ao conhecer Paraty, no Estado do Rio de Janeiro. A cidade, que é patrimônio histórico nacional, foi fonte de inspiração para a produção de uma série de pinturas, realizadas ao longo de quatro anos, que resultaram no livro “Aquarelas e variações sobre Paraty”, lançado em 2004, pela Editora Luna.

Foi em 1999 que Cárcamo conheceu a cidade e se apaixonou. “Sabia que Paraty é uma cidade super importante e fiquei fascinado por poder mergulhar um pouco na história da região”, conta. O trabalho repercutiu e Cárcamo foi convidado para ter um espaço permanente em Paraty, para pintar e fazer exposições. Lá inaugurou, há alguns anos, a Mangue Galeria.

Nas aquarelas, Cárcamo retrata detalhes da cidade como os pescadores no mercado, as ruas invadidas pela maré, as igrejas, a luminosidade do amanhecer, os dias chuvosos, a praia, os barcos. “Isso é mágico”, lembra, ressaltando a importância de se conciliar as necessidades dos moradores com a preservação histórica. O caricaturista diz ainda que gostaria de fazer este projeto em outras cidades do Brasil, “A idéia é pintar lugares que me sensibilizam”, observa.

Vale a pena conhecer mais o trabalho de Gonzalo Cárcamo, que divide seu tempo colaborando com várias editoras do Brasil, através das ilustrações que produz, e as aulas de aquarela no Atelier Altamira, na Vila Madalena, onde também estão expostas as aquarelas de Paraty e onde se pode adquirir o livro.

Atelier Altamira
Rua Fidalga, 171 – Vila Madalena – São Paulo/SP
Telefone: (11) 3819-0370

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Extraído dos sites:
http://www.editoramelhoramentos.com.br/imprensa/lorotas_urubu.asp
http://www.culturavotorantim.com.br/default.asp?id=11&mnu=11&ACT=5&content=611
http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.carcamo.com.br/img/img_peq/biografia.jpg&imgrefurl=http://www.carcamo.com.br/biografia.htm&h=380&w=390&sz=55&hl=pt-BR&start=1&tbnid=aM9H1UCLUYM_EM:&tbnh=120&tbnw=123&prev=/images%3Fq%3Dgonzalo%2Bc%25C3%25A1rcamo%26gbv%3D2%26svnum%3D10%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DG
http://www.guiadavila.com/materias2.asp?edicao=107&materia=178



domingo, janeiro 20, 2008

 

Mario Quintana (1906-1994)


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Já havia falado da capa da revista, num outro post, agora transcrevo partes do texto:

Do estilo
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“Fere de leve a frase... E esquece...
Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa
agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.”
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Da preocupação de escrever
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“Escrever... Mas porquê? Por
vaidade, está visto...
Pura vaidade, escrever!
Pegar da pena... Olhai que graça
terá isto,
Se já se sabe tudo o
que se vai dizer!...”

Trechos de Espelho mágico
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(...) Mario Quintana jamais se engajou em nada, nem em escolas poéticas. Individualista, narcisista, era um gauche solitário. Seu jeito mágico de criar sempre perturbou os mais eruditos, que ainda olham os textos do poeta com certa desconfiança. Sentimento atestado pelo próprio autor em um de seus minitextos reunidos em Caderno H, intitulado “A coisa”: “A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita”.

É de uma simplicidade enganosa, de saborosa oralidade, que se fala aqui em referência à obra deste poeta que nasceu em Alegrete em 30 de julho e construiu toda a sua estrada literária sem tirar em definitivo os pés do solo gaúcho. Antes de virar autor famoso, foi atendente na Livraria do Globo e depois trabalhou com o pai como prático de farmácia. Foi desse aprendizado que herdou o gosto pela “dosagem das palavras”, em oposição à chatice da longuidão, como escreveu no texto “Mario Quintana por ele mesmo” em 1984.

Tornou-se poeta aos poucos. (...)

Apesar das inúmeras honrarias, dos prêmios e das homenagens que recebeu em vida, como a de Manuel Bandeira e Augusto Meyer na Academia Brasileira de Letras, Quintana foi um daqueles artistas que sempre estiveram à margem dos grandes grupos, acontecimentos, escolas ou movimentos inaugurais. Jamais conseguiu entrar na própria ABL que o homenageara, o que lhe rendeu um ótimo riso de si mesmo no já clássico “Poeminha do contra”: “Todos esses que aí estão/Atravancando o meu caminho,/Eles passarão.../Eu passarinho!”.

Velhinho estranho, solitário e simpático, que disse nunca ter escrito uma linha sequer que não fosse autobiográfica, Quintana foi senhor de seus próprios caminhos inventados e nada do que não possuiu pareceu fazer realmente falta. Com seu jeito peculiar de se apresentar ao mundo, o poeta dizia que alguns não chegarão a enxergá-Io. “Que sobrará de mim, eu que só escrevo para os que gostam de ler nas entrelinhas?”

Rever a obra do autor é um mergulho num cotidiano transfigurado por um profundo lirismo, repleto de sonoridade e musicalidade. Críticos, escritores, professores e poetas ouvidos por EntreLivros para esta edição (...) disseram que a poesia de Mario Quintana é um trabalho muito mais complexo do que parece numa primeira leitura apressada e comprometida com o entendimento cerebral da vida e dos acontecimentos. Há palavras que são verdadeiramente mágicas, e Quintana parecia saber disso como ninguém.
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“Isto de escrever versos de amor é
das coisas mais difíceis que há.
Impossível não descambar para
o lugar-comum. Je dis des mots
toujours les mêmes... confessa o
próprio autor de Toi et moi.”

Trecho de Porta giratória

Não é fácil encontrar método, vocabulário e tom para, segundo Silviano Santiago, envolver digna e racionalmente a poesia lírica, embora acredite que a mesma seja bem recebida em alguns arraiais acadêmicos. “O poema lírico é auto-suficiente. Convida menos à reflexão e mais à leitura prazerosa. Não é por casualidade que o leitor comum, sem usar a ‘visão armada’, velha expressão da crítica anglo-saxônica, esteja sendo tão disputado por algumas vozes poéticas em destaque no movimento”, (...), comenta o escritor.

O que se entende por leitor comum é, em geral, aquele que não tem formação em letras e, principalmente, em história ou sociologia. Estes precisam apenas de um apetrecho para a recepção de um poema lírico: a sensibilidade. “Talvez o sucesso de Quintana se explique porque há fome de poesia lírica entre os novos participantes da vida literária”, analisa Silviano Santiago.

A poeta gaúcha Suzana Vargas, mestre em teoria da literatura e autora de O amor é vermelho, conviveu de perto com Mario Quintana em Porto Alegre. Ela diz que o maior legado do autor de Aprendiz de feiticeiro, tanto para as novas gerações de poetas como para os leitores de poesia é o casamento harmonioso entre pensamento e emoção: “Quintana escrevia com simplicidade, mas sem concessões à simplificação. Quando penso nele, lembro dos versos de Fernando Pessoa – ‘O que em mim sente/Está pensando’”. A poeta diz que nunca se esquece dos conselhos de Quintana: trabalhar, trabalhar e trabalhar para que o trabalho não apareça. “Muito diferente da poesia que se pratica hoje, plena de citações e de uma pseudo-erudição”, acrescenta. A obra do poeta de Alegrete, segundo ela, faz lembrar também uma frase de Clarice Lispector em A hora da estrela – “só consigo a simplicidade através de muito trabalho”.

Para o tradutor e escritor Sérgio Faraco, autor de Dançar tango em Porto Alegre, a crítica costuma preferir na poesia aquilo que é cerebral ou a mera arquitetura frasal; “de sentimentos, só há indícios”. Diz Faraco: “Quintana é poesia pura, sem babados, e as pessoas supostamente mais intelectualizadas preferem o babado”. Ele alerta para a cilada: não se trata de uma poesia espontânea. “Eis um dos grandes méritos do poeta: escrever com tal naturalidade que faz os leitores naufragarem nas águas profundas de sua ternura e, sobretudo, de sua suave e doce ironia”, explica.

Embora seja hoje um poeta popular, com leitores cativos, a recepção do autor foi bastante tardia mesmo por parte de quem hoje o admira, não só pelos fatores já citados, mas também por causa de um individualismo que, na opinião da professora de literatura da UFRGS, Regina Zilberman, deixou o poeta um tanto arredio no seu trajeto contramão: “Não podemos esquecer que seu primeiro livro, A rua dos cata­ventos, inclui apenas sonetos, quando o modernismo paulista tinha banido o gênero. Quando retornaram as preocupações formais com o verso, a rima e a métrica, o que se constata mesmo em Drummond, (...), Quintana prefere adotar o verso livre, abandonar a rima, como se verifica em Aprendiz de feiticeiro. Mais do que a crítica, os historiadores da literatura não souberam como definir, nem enquadrar, um poeta com essas características. Daí a valorização de sua obra só acontecer depois dos anos 80, quando o poeta já tinha mais de 70 anos”, analisa.

Mario Quintana foi, segundo Regina Zilberman, moderno por recusar a modernidade; renitentemente subjetivo ao filtrar o mundo exterior por meio do seu ego – única entidade em que verdadeiramente confiava.
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“Sempre desconfiei de
narrativas de sonhos. Se já nos
é difícil recordar o que vimos
despertos e de olhos bem abertos,
imagine-se o que não será das
coisas que vimos dormindo e
de olhos fechados... Com esse
pouco que nos resta, fazemos
reconstituições suspeitamente
lógicas e pomos enredo, sem
querer; nas ocasionais variações
de um calidoscópio. Me lembro
de que, quando menino,
minha gente acusava-me de
inventar os sonhos. O que me
deixava indignado.

Hoje creio que ambas as
partes tínhamos razão.

Por outro lado, o que mais
espantoso há nos sonhos é que
não nos espantamos de nada.
Sonhas, por exemplo, que estás
a conversar com o tio Juca.
De repente, te lembras de
que ele já morreu. E daí? A
conversa continua.

Com toda a naturalidade.

Já imaginaste que bom
se pudesses manter essa
imperturbável
serenidade na vida
propriamente dita?”

Trecho de A vaca e o hipogrifo
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Escrever
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“Se alguém nota que
estás escrevendo bem,
toma cuidado: é caso de
desconfiares... O crime
peifeito não deixa vestígios.”

Trecho de Da preguiça como método de trabalho
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Desse modo, completa a professora, sua poesia é jovem, pois “revela a visão de mundo dos que acreditam em si mesmos e recusam idéias prontas, mesmo que venham de seus pares”.

Outro aspecto importante a analisar quando o assunto é Mario Quintana é o fato de o poeta nunca ter saído do sul e tentado se aproximar de grupos que estavam na época produzindo nos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo. Será que esta decisão marcou os rumos de sua recepção tardia? Para Regina Zilberman, a permanência do poeta em Porto Alegre não foi um fator preponderante. “Erico Veríssimo consagrou-se romancista entre 1935 e 1945 e sempre residiu no sul. Por sua vez, Augusto Meyer foi para o Rio de Janeiro e afirmou­se como crítico literário, mas deixou a poesia em segundo plano. Contudo, considerando como funciona o campo literário no Brasil, tenho a impressão de que a opção por não se filiar a um grupo, como o dos modernistas, assim como fizeram os mineiros, atrasou sua recepção”, argumenta.
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(...) O poeta Fabrício Carpinejar, autor de Meu filho, minha filha, define Quintana como um artista que reforçava a ingenuidade com o diminutivo, mas que, de ingênuo, não tinha nada – “um adulto com alma de passarinho”, que talvez tenha se escondido no bairrismo para proteger seu receio de não ser aceito nacionalmente. Na opinião de Carpinejar, a grande popularidade de Quintana vem do fato de que sua poesia é, acima de tudo, comunicativa. “Com pérolas de chistes e contra-senso, que servem para epígrafes, epítetos e agendas, tipo ‘Amar é mudar a alma de casa’, o poeta foi um observador privilegiado, que desafiava condicionamentos comportamentais. Além disso, a poesia é lavada no humor e na orfandade da infância, combinando nostalgia com uma carência charmosa. Um fascinante jogo de sedução.”
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Cláudia Nina*

[trechos extraídos da revista EntreLivros, Edição 32/Dezembro 2007, Duetto Editorial/SP, pp. 26, 27, 29, 32, 33 e 34.]

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hipogrifo [De hip(o) + grifo; fr. hippogriffe e it. ippogrifo]
Substantivo masculino
1. Animal fabuloso, monstro alado, metade cavalo, metade grifo: “Da brenha louca saíram então a correr .... mastins vários de todas as cores e feitios, e, de mistura, hipogrifos, licornes, dragões alados.” (Aquilino Ribeiro, Estrada de Santiago, pp. 312-313)
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chiste [Do esp. chiste]
Substantivo masculino.
1. Dito gracioso; facécia, piada, pilhéria, gracejo: “Graças, chistes, e facécias, que movem o riso, são para o tablado da Comédia, e não para o Púlpito” (P.e Manuel Bernardes, Os Últimos Fins do Homem, p. 376).
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epíteto [Do lat. epitheton; gr. epítheton.]
Substantivo masculino.
1. Palavra ou frase que qualifica pessoa ou coisa.
2. V. cognome: “Os calvinistas atraídos ao seio da sua tirania [de Villegagnon] na América, puseram-lhe o infame epíteto de Caim, para significar que assassinou os seus irmãos.” (João Ribeiro, História do Brasil, p. 114.)
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Capa: Ilustração de Cárcamo
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* Cláudia Nina é crítica literária, jornalista e professora de Teoria Literária. Ex-editora do caderno Idéias & Livros, do Jornal do Brasil, escreve para a revista EntreLivros e para o caderno Prosa & Verso, do jornal O Globo. É doutora em Letras pela Universidade de Utrecht, na Holanda, onde defendeu a tese Exilic/nomadic itineraries in Clarice Lispector's works, que, no Brasil, foi publicada com o título de A palavra usurpada - Exílio e nomadismo na obra de Clarice Lispector, pela EDIPUCRS. Na PUC-Rio, na disciplina Jornalismo Literário, ministrou o curso Suplementos literários - como escrever e editá-los', que foi a base deste livro. Foi também editora do site Traça On-line, de crítica literária, montado com base no curso de edição dos suplementos. Em 2003, ganhou a bolsa Prodoc da Capes com um projeto intitulado Crítica literária em uma perspectiva histórica. Cláudia nasceu no Rio de Janeiro. Sua mais recente pesquisa é sobre a literatura contemporânea e a obra de alguns dos autores mais significativos da atualidade.


quarta-feira, janeiro 16, 2008

 

O Rei & Deus



E por falar no “Rei” e nas canções qu'ele não gravou, eis um comentário do Gil sobre a criação de “Se eu quiser falar com Deus”:

O Roberto me pediu uma canção; do que eu vou falar? Ele é tão religioso – e se eu quiser falar de Deus? E se eu quiser falar com Deus? Com esses pensamentos e inquirições feitas durante uma sesta, dei início a uma exaustiva enumeração: 'Se eu quiser falar com Deus, tenho que isso, que aquilo, que aquilo outro'. E saí. À noite voltei e organizei as frases em três estrofes.

O que chegou a mim como tendo sido a reação dele, Roberto Carlos, foi que ele disse que aquela não era a idéia de Deus que ele tem. 'O Deus desconhecido'. Ali, a configuração não é a de um Deus nítido, com um perfil claro, definido. A canção (mais filosofal, nesse sentido, do que religiosa) não é necessariamente sobre um Deus, mas sobre a realidade última; o vazio de Deus: o vazio-Deus.

[extraído do livro "Todas as letras" – Gilberto Gil / Organização: Carlos Rennó, 1996, Cia das Letras, p. 240]
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Se eu quiser falar com Deus
Gilberto Gil
1980


Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mau tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar

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Mas Elis gravou e ficou perfeita! No songbook do Gil (vol. 2 - 1992), a interpretação é de Gal Costa, acompanhada, ao teclado, por Cristóvão Bastos. No CD Piano & voz (2003), Pedro Mariano canta, acompanhado do pai.
























segunda-feira, janeiro 14, 2008

 

Quintana por Cárcamo



Adorei a capa da última EntreLivros [edição 32 – Dezembro 2007], que traz uma delicada aquarela de Mario Quintana (1906-1994) feita por Gonzalo Cárcamo. A revista dedica várias páginas ao autor/poeta, num dossiê escrito pela jornalista e crítica literária Cláudia Nina, com dois subtítulos:

“A hora do lirismo” [pág. 24]Gauche solitário, Mario Quintana criou uma poesia de simplicidade enganosa, que conquista leitores, mas nunca teve aclamação da crítica.

“A alma de passarinho” [pág. 30] – A recepção do poeta de Alegrete foi tardia não somente pela carga lírica de seus versos como pela não-filiação a escolas ou movimentos literários de sua época.
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gauche [Francês]
Adjetivo de dois gêneros
1. Acanhado, inepto; esquerdo.
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Transcreverei algumas passagens, num outro post. Agora, só queria mesmo mostrar a capa da revista.

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Links:
http://www.releituras.com/mquintana_bio.asp
http://www.pensador.info/autor/Mario_Quintana/
http://www.secrel.com.br/JPOESIA/quinta.html
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=460150&sid=01951864910114386168297618&k5=3907B6C0&uid=
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Em tempo: Li, aqui e aqui, que a EntreLivros deixará de ser publicada.



 

Sem som



Estou, há dias, tentando fazer um post musical, mas o iJigg ‘tá me dando o maior baile! Tenho de aguardar, então, pacientemente. Ou mudar o mote...



sexta-feira, janeiro 04, 2008

 

Atendendo a um pedido



O blogueiro Diego pediu qu’eu mostrasse esta canção do Chico, em parceria com Dominguinhos. Devo confessar que nunca prestei muita atenção nela (apesar de conhecê-la). Fui, então, pesquisar: Chico a gravou no CD “As cidades” (1998) e em "Chico ao vivo" (1999). Dominguinhos, no CD "Dominguinhos ao vivo" (2001). Elba Ramalho, no CD "Baião de dois" (2005). Em todas as gravações a sanfona é de Dominguinhos. Sobre ele, aliás, Arnaldo já falou em seu blog..
...
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Xote de navegação
Dominguinhos & Chico Buarque/1998


Eu vejo aquele rio a deslizar
O tempo a atravessar meu vilarejo
E, às vezes, largo
O afazer
Me pego em sonho
A navegar

Com o nome Paciência
Vai a minha embarcação
Pendulando como o tempo
E tendo igual destinação
Pra quem anda na barcaça
Tudo, tudo passa
Só o tempo não

Passam paisagens furta-cor
Passa e repassa o mesmo cais
Num mesmo instante eu vejo a flor
Que desabrocha e se desfaz
Essa é a tua música
É tua respiração
Mas eu tenho só teu lenço
Em minha mão

Olhando meu navio
O impaciente capataz
Grita da ribanceira
Que navega pra trás
No convés, eu vou sombrio
Cabeleira de rapaz
Pela água do rio
Que é sem fim
E é nunca mais
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Disco: “As cidades”
Voz: Chico Buarque
Arranjo & violão: Luiz Cláudio Ramos
Arranjo & acordeom: Dominguinhos
Baixo: Jorge Helder
Violino: Ricardo Amado
Bandolim: José Menezes








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*Acrescento as observações do próprio Diego:

Essa música é uma preciosidade. É cheia de sutilezas.
Logo no início, Chico apresenta o Rio e o Tempo. Analisando calmamente a segunda estrofe, percebe-se que o Rio e o Tempo são a mesma coisa. Substitua o "tempo" por "rio", e veja o efeito...
Na terceira estrofe, Chico poderia ter dito apenas "Estou me lembrando de você". Mas ele é o Chico...
Na quarta, o navio, de nome Paciência, vira o impaciente capataz - que o afasta dela. E novamente, substitua "rio" por "tempo" nessa estrofe e veja o efeito...
Belíssimo, não?
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Há outra composição envolvendo esta parceria (Chico & Dominguinhos), gravada no disco “Chico Buarque” (1984) e no CD “Dominguinhos ao vivo” (2001). A música foi composta e enviada para Roberto Carlos gravar. Ele ficou com a fita durante muito tempo, mas acabou não gravando. Especula-se que o motivo seja o fato de haver palavras estrangeiras na letra e isso, segundo o cantor, seria incompreensível para o seu público. É uma pena. Certamente, esta canção ficaria bonita na voz do “Rei”.
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Tantas palavras
Dominguinhos & Chico Buarque/1983

Tantas palavras
Que eu conhecia
Só por ouvir falar, falar
Tantas palavras
Que ela gostava
E repetia
Só por gostar

Não tinham tradução
Mas combinavam bem
Toda sessão ela virava uma atriz
Give me a kiss, darling
Play it again


Trocamos confissões, sons
No cinema, dublando as paixões
Movendo as bocas
Com palavras ocas
Ou fora de si
Minha boca
Sem que eu compreendesse
Falou c
'est fini
C'est fini


Tantas palavras
Que eu conhecia
E já não falo mais, jamais
Quantas palavras
Que ela adorava
Saíram de cartaz

Nós aprendemos
Palavras duras
Como dizer perdi, perdi
Palavras tontas
Nossas palavras
Quem falou não está mais aqui
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Disco: "Chico Buarque"
Voz: Chico Buarque
Acordeom: Dominguinhos
Violão, piano & arranjo: Cristovão Bastos
Teclados: Hugo Fattoruso

Disco: "Dominguinhos ao vivo"
Voz: Dominguinhos
Gravado no Teatro do SESC Pompéia, São Paulo (dias 25 e 26 de março, de 2000)



quinta-feira, janeiro 03, 2008

 

1 ano



Hoje, faz exatamente um ano que iniciei o blog, depois da insistência e incentivo de amigos (especialmente, da Vivien), do Arnaldo e da Cê. Adoro ler & escrever e tinha algumas coisas guardadas pra mostrar, descobertas pra compartilhar, e, apesar do receio da receptividade da blogosfera, da dúvida se o que tinha a dizer interessaria a alguém, encarei o desafio. Recebi visitas, através das caixas de comentários, conheci pessoas, fiz, revi e reencontrei amigos. Foi muito bom!

Não, não é despedida, não. Continuarei escrevendo, enquanto houver o que mostrar, dizer, informar, atender. Quem aparecer será sempre bem-vindo! Pra ler, ouvir e opinar...

Deixo esta canção, na(s) voz(es) do
Lô Borges (gravação antológica do disco Clube da Esquina, 1972) e da Elis, no disco Elis (1980).
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O Trem Azul
Lô Borges & Ronaldo Bastos

Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem, às vezes, me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar

Você pega o trem azul, o sol na cabeça
O sol pega o trem azul, você na cabeça
O sol na cabeça

Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem, às vezes, me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar

Você pega o trem azul, o sol na cabeça
O sol pega o trem azul, você na cabeça
O sol na cabeça
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Voz: Lô Borges
Guitarra solo: Toninho Horta
Guitarra base: Lô Borges
Baixo: Beto Guedes
Bateria: Robertinho Silva
Órgão: Wagner Tiso
Coro: Beto Guedes, Lô Borges & Toninho Horta
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Voz: Elis Regina
Piano: César Camargo Mariano
Guitarra base: Nathan
Guitarra solo & viola 12 cordas: Pisca
Baixo: Pedro Baldanza
Bateria: Picolé
Sax: José Roberto
Vocal: César, Pedro, Pisca & Nathan


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