quarta-feira, dezembro 19, 2007

 

A voz do dono e o dono da voz


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E por falar em voz(es), encontrei, no site oficial do Chico, uma nota sobre a canção “A voz do dono e o dono da voz” (composta por ele, em 1981, e gravada, no disco “Almanaque”, no mesmo ano):

Nota sobre "A voz do dono e o dono da voz"
Por Humberto Werneck

Nem sempre, porém, os problemas eram apenas com a censura, como ficou demonstrado no caso de Cálice. A música foi composta por Chico e Gilberto Gil, no clima pesado de uma Sexta-feira Santa, para o show Phono 73, que a gravadora Phonogram (ex Philips, e depois Polygram) organizou no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973. Como a censura havia proibido a letra, os dois autores decidiram cantar apenas a melodia, pontuando-a com a palavra cálice - mas nem mesmo isto foi possível. Segundo o relato do Jornal da Tarde, "a Phonogram resolveu cortar o som dos microfones de Chico, para evitar que a música, mesmo sem a letra, fosse apresentada".

Sucessivos entreveros com a gravadora, a partir daí, levariam o compositor a buscar outro selo em 1980 - ou a voz a buscar outro dono, como disse numa bem-humorada canção de seu primeiro LP na Ariola, Almanaque, de 1981, chamada A voz do dono e o dono da voz: Enfim, a voz firmou contrato / e foi morar com novo algoz.

Mas não deu sorte: no dia em que acabou de gravar Almanaque, a Ariola foi vendida - exatamente para a Polygram. O clima no final do contrato era tão ruim que Chico, durante a gravação de seu último disco na casa, Vida, em 1980, se inquietou com a possibilidade de que a Polygram viesse a guardar, de olho em futuros lançamentos, a sua voz-guia - espécie de rascunho com a voz do cantor, para orientar o trabalho de orquestração. Na tentativa de inviabilizar qualquer eventual projeto nesse sentido, Chico tratou de rechear a fita com palavrões. Estava extremamente tenso, nessa época. Um dia, ao preencher um cheque para o analista, desabafou: "Vou mandar esta conta para a Phonogram".

Houve problemas também, e duradouros, com a Rede Globo.

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..© Copyright Humberto Werneck, Gol de letras, em Chico Buarque Letra e Música, Cia da Letras, 1989.


A voz do dono e o dono da voz
Chico Buarque/1981

Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz
Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prós
Fizeram bodas de acetato - de fato
Assim como os nossos avós
O dono prensa a voz, a voz resulta um prato
Que gira para todos nós

O dono andava com outras doses
A voz era de um dono só
Deus deu ao dono os dentes, Deus deu ao dono as nozes
Às vozes Deus só deu seu dó

Porém a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa
Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta
A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantes

Enfim, a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz
Queria se prensar, queria ser um prato
Girar e se esquecer, veloz

Foi revelada na assembléia - atéia
Aquela situação atroz
A voz foi infiel trocando de traquéia
E o dono foi perdendo a voz

E o dono foi perdendo a linha - que tinha
E foi perdendo a luz e além
E disse: Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém

(O que é bom para o dono é bom para a voz)
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“Almanaque” – 1981
Voz: Chico Buarque
Piano elétrico: Francis Hime
Violão: Burner
Guitarra: Toninho Horta
Baixo: Novelli
Trumpete: Márcio Montarroyos
Sax-soprano: Mauro Senise
Órgão: Zé Ribeiro Bertrami
Vibrafone: Pinduca
Bateria: Paulinho Braga
Percussão: Djalma Correa & Papete
Coro: Claudinha Telles, Regina, Soninha Burnier, Beto, Ronaldo & Valdir
Arranjo vocal: Magro



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“Cida Moreyra canta Chico Buarque” – 1993
Voz e piano: Cida Moreyra
Clarineta: Gil Reyes
Percussão: Sérgio Chica
Baixo: Fábio Tagliaferri
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"Songbook Chico Buarque" (vol. 5) – 1999
Voz: Cris Braun
Piano & arranjo: Leandro Braga
Violão: João Lyra
Baixo: Jorjão Carvalho
Cavaquinho: Luciana Rabello
Percussão: Zero


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