segunda-feira, março 12, 2007

 

pausa...



Precisarei abandonar o computador por um tempo... Iniciei, hoje, sessões de fisioterapia pra tratar de uma bursite, no ombro direito, e tendinite, na mão direita. Ah, este mouse! Terei de ficar longe também do varal e da tábua de passar roupa... que horror!!!

Bursite

Bursite é a inflamação da bursa, pequena bolsa contendo líquido que envolve as articulações e funciona como amortecedor entre ossos, tendões e tecidos musculares. A bursite ocorre principalmente nos ombros, cotovelos e joelhos.

Sintomas:

Dor

Edema

Inflamação

Restrição de movimentos

Causas:

Traumatismos

Infecções

Lesões por esforço

Uso excessivo das articulações

Movimentos repetitivos

Artrite (inflamação das articulações)

Gota (depósito de cristais de ácido úrico na articulação)

Tratamento:

O tratamento deve ser feito sob orientação médica e inclui o uso de antiinflamatórios, relaxantes musculares, aplicações de gelo e redução dos movimentos na área afetada. Exercícios fisioterapêuticos podem ajudar, desde que orientados por profissionais especializados. Casos mais graves podem exigir intervenção cirúrgica.

http://drauziovarella.ig.com.br/arquivo/arquivo.asp?doe_id=46



quinta-feira, março 08, 2007

 

Vida & ficção


Primeiro o fato, depois o livro e, a seguir, o filme, baseado nos dois anteriores... Assim fiquei conhecendo a história de Ramón Sampedro, nascido numa província de La Coruña, Espanha.

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O livro: “Cartas do Inferno” [escrito por Ramón Sampedro, tradução de Lea P. Zylberlicht, Editora Planeta, 2004, 278 páginas].









O filme: “Mar adentro” (Espanha, 2004, direção de Alejandro Amenábar, com o ótimo ator espanhol, Javier Barden, como protagonista – imperdível!).



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Acho que as transcrições do livro, assim como os links (relacionados ao personagem real, seu livro e o filme), falarão por mim:


Biografia

Ramón Sampedro nasceu em 5 de janeiro de 1943 em Xuño, uma pequena aldeia da província de La Coruña. Quando tinha 22 anos embarcou como mecânico em um navio mercante norueguês, e com ele percorreu quarenta e nove portos do mundo inteiro. Essa experiência permaneceu como uma de suas melhores recordações. Em 23 de agosto de 1968 pulou na água de cima de um rochedo. A maré havia baixado e o choque da cabeça contra a areia produziu uma fratura na sétima vértebra cervical. Durante trinta anos viveu sua tetraplegia sonhando com a liberdade através da morte. Sua demanda jurídica não foi aceita no Tribunal de Direitos Humanos de Estrasburgo. Pelos meios de comunicação reivindicou seu direito a uma morte digna e em janeiro de 1998, em segredo e provavelmente assistido por uma mão amiga, conseguiu seu intento.

Prólogo de Alejandro Amenábar

Este livro não é, no sentido estrito, a base literária ou dramática do que depois seria o filme Mar Adentro. Em realidade, é muito mais que isso. Ele é o complemento intelectual e poético, o pilar filosófico que deu fundamento e sentido a todo o nosso trabalho posterior. Depois de mais de vinte anos de reflexão, leituras, conversas e petições, Ramón decidiu publicar estas Cartas com um objetivo muito claro: fazer valer sua individualidade e sua liberdade.

No entanto, ao mesmo tempo, Ramón consegue nos situar frente ao abismo da morte, nos colocar junto a essa linha divisória, a que separa este mundo do "outro" talvez, o nada. E nos diz: "Deixe-me cruzar a linha, deixe-me pular". Eu, pessoalmente, nunca me aproximei muito do abismo – talvez, aos doze anos, quando caí em uma pequena queda-d'água e, como Ramón, quase quebrei o pescoço –, mas acredito que, por pouco que caminhemos pelo mundo, temos de nos deparar, mais cedo ou mais tarde, com isso que, inconscientemente, acabamos afastando de nossos pensamentos. Ramón nos ajuda e, mais ainda, nos incita a refletir sobre isso, sem medo, porque para ele a morte é apenas uma parte do processo natural da vida. Nesse aspecto, sua prosa é contundente. Outras vezes, quando descreve sua própria situação, ela se torna amarga, dolorosa. Mas sempre permanece em tudo um fundo escrupulosamente racional, a razão de sua consciência, um empenho para debater e argumentar sem deixar fios soltos. E para os que ainda assim pensam que o seu ponto de vista é injustificável, Ramón exige, em última instância, a não intromissão, farto de sofrer o preconceito, a compaixão, o paternalismo ou, de maneira direta, o descrédito.

Ao lado dessa racionalidade, os poemas de Ramón revelam sua enorme sensibilidade, submergindo-nos em um mundo de imagens – o mar, a janela –, de sonhos, sentimentos... Encontra-se nestas páginas, em estado puro, o universo que inspirou, exceto o título, muitas das seqüências de Mar Adentro. Ainda que esse aspecto, o metafórico e o lírico, tenha sido fundamental para a realização do filme, o certo é que não teríamos nos decidido se não tivéssemos conhecido o Ramón na intimidade, aquele lembrado por seus próximos como sempre sorridente, um constante brincalhão, sedutor nato... No fim das contas, embora isso pareça contraditório, uma pessoa profundamente dotada de grande impulso de vida. Não tive o privilégio de encontrá-lo, mas, de alguma maneira, sinto que algo dele já forma parte de mim.

Agradeço muito sinceramente à família Sampedro por nos abrir suas portas e manter vivo o legado de Ramón. Durante muitos anos eles foram um exemplo de dedicação e de amor desinteressado.

Em troca, gosto de pensar que Ramón os presenteou com este livro.

ALEJANDRO AMENABAR



DEDICATÓRIA

Com todo o meu afeto e gratidão, dedico este livro a Manuela, minha cunhada. Ela é verdadeiramente uma mestra exemplar em humanidade. Em seu coração não há lugar para a intolerância e a mesquinhez porque ela é a personificação da generosidade e do respeito.

Á memória de minha mãe, que não teve a oportunidade de se fazer de deusa.

Ao meu pai, que junto com meu irmão e sobrinhos tornaram mais suportáveis os rigores do inferno.

À lembrança de James Haig, um tetraplégico inglês, que, depois de muitas e humilhantes súplicas, teve que se queimar vivo porque a justiça lhe negou o direito e a liberdade para morrer de um modo mais humano.

À minha querida amiga e escritora Laura Palmés, sem cujos conselhos persuasivos e ajuda este livro nunca teria sido escrito.

RAMON SAMPEDRO


Prólogo para "Cartas do Inferno"

No dia 23 de agosto de 1968 fraturei o pescoço ao mergulhar em uma praia e bater com a cabeça na areia. Desde esse dia sou uma cabeça viva e um corpo morto. Poderia dizer que sou o espírito falante de um morto.

Se eu fosse um animal, teria recebido um tratamento de acordo com os sentimentos humanos mais nobres. Teriam posto fim à minha vida porque lhes pareceria desumano deixar-me nesse estado pelo resto da vida. Às vezes é um azar ser um macaco degenerado!

Dizem os especialistas em medicina, o que é confirmado por políticos, juízes, juristas e demais castas que se associam a essas para estabelecer o estado desumano do direito e do bem-estar – seria mais coerente chamá-la de desgraça e do mal-estar –, que um tetraplégico é um doente crônico.

Se a linguagem fosse utilizada com precisão, seria menos enganoso afirmar que um tetraplégico é um morto crônico.

Não gosto de fazer o papel de morto crônico nesta comédia do viver para sobreviver em função do burlesco da linguagem técnica!

Considero o tetraplégico como um morto crônico que reside no inferno. Ali – para evitar a loucura – há os que se entretêm pintando, rezando, lendo, respirando ou fazendo algo pelos demais. Há gostos para tudo! Eu me dediquei a escrever cartas. Cartas do inferno.

Que ninguém se esforce por descobrir uma linha metódica nestes escritos. Todos são variações sobre um mesmo tema. Uma única idéia. Uma só paixão.

O que sobretudo me interessa é a liberdade do ser humano e tudo quanto gira ao redor da vida, do amor e da morte. Assim como as três funções que psicologicamente determinam nossa existência, as crenças, o pensamento e a conduta: o prazer, a dor e o temor.

No dia em que a ciência concluiu que era impossível curar-me da paralisia, pensei, com o desespero do animal apanhado na armadilha infernal de algum cruel caçador, na bondade da morte. A caridade, é claro, começa por si mesmo! Mas parece que esse princípio moral só é compreendido pelos políticos, juízes, religiosos, médicos, quando se trata de aumentar seus salários para cobrar o bem que fazem pela humanidade.

No início, você só pensa em se libertar. Há somente duas alternativas: transformar-se em um ser absurdo, ser o que você não quer ser, um habitante do inferno; ou ser coerente com a utopia da vida. Libertar-se da dor, buscar o prazer através da morte. Decidi-me pela libertação, não como algo negativo, mas como positivo: procurar algo melhor.

A primeira coisa que meus pais disseram quando lhes falei que queria morrer foi que me preferiam assim, não queriam perder-me para sempre. Não há maneira de escapar, as pessoas não querem tocar nesse assunto. A lei proíbe. E o "eu não sou capaz de lhe prestar a ajuda que me pede!" prevalece como a vontade de uma lei invisível que cerceia a vontade pessoal.

Essa foi a primeira vez que me deparei com o muro impenetrável do paternalismo bem-intencionado. Não quero dizer que meus pais, familiares e amigos não sintam o que afirmam, o que quero dizer é que não têm o direito de querer que prevaleça o desejo e a vontade deles sobre os meus.

No início de 1990, consigo a colaboração para uma eutanásia discreta. Mas, diante da evidência, manifesta-se o autoritarismo. Então, o que ouço já não é mais: "eu não posso!", "não peça para mim!", mas "eu não quero!", "eu proíbo!".

Recorri, então, aos juízes e sucedeu o seguinte: "eu não sou competente" ou sua petição não foi aceita por falta de formulação adequada. Por fim, se expressou o insulto dos dogmáticos fundamentalistas da crença cega no sofrimento purificador: Covarde! Se você quer morrer, morra, mas deixe-nos em paz e não ofenda a Deus!

Parece que jamais lhes ocorreu pensar que eles, e não eu, são o fracasso da razão.

Em abril de 1993 decidi exigir a eutanásia como um direito pessoal. Nunca havia imaginado que houvesse tanto terror e superstições ocultas. Foi como se todos os *néscios da Terra tivessem conspirado para me fazer desistir de seguir esse caminho. De acordo com eles, eu estava errado.

Não tenho outro interesse senão o de mostrar que a intolerância manifestada pelo Estado e pela religião é como uma idéia fixa. Eles são os inimigos naturais da vida e os responsáveis pela destruição do homem como indivíduo.

Um dos colaboradores disse: esse é o nosso fracasso, não soubemos lhe dar um motivo para viver. Algumas pessoas se sentem ofendidas porque você recusa o oferecimento da proteção de seu deus. Outras, porque você despreza suas ciências paliativas e inúteis.

Depois de ter escutado coisas tão absurdas como as que se seguem, só nos resta escrever Cartas do inferno.

Alguém pergunta, você quer sarar?

Claro que sim, respondo.

Então peça a Deus, se o fizer de verdade vai sarar.

Mas, se Deus já sabe que quero sarar de verdade, por que tenho que pedir?

Alguém diz: eu o aprecio muito. Você acredita em mim?

Sim, mas o que importa se você me aprecia muito ou muitíssimo, e eu também o aprecie, se isso não muda a realidade?

Você desistiu de viver. Isso é negativo, destrutivo, assegura o sabichão.

Essa maneira de pensar entre dominante e serviçal é tão ridícula que só um ser absolutamente degenerado pode achar natural esse comportamento humilhante.

Se não fosse por seus defeitos, você não seria o mesmo!

Será que você seria como é se não fosse tetraplégico?

Você pensaria sobre as mesmas coisas?

É claro que não, o indivíduo sempre é ele mais sua circunstância. Mas se você necessita da visão, ou da vivência do horror para se elevar e crescer espiritualmente, humanizar-se e ser ética e moralmente superior, olhe para si mesmo. Pode ser que você seja incapaz de amar, mas não justifique por causa disso o horror dos demais. Para entender a dor não é necessário vivê-la!

Só um carrapato diria que o dever de seu cachorro é o de sofrer!

O auto-engano do ser humano diante da morte levou-o a uma tal atitude irracional que ele a nega racionalmente. O sentido da morte não lhe é ensinado. E a estratégia dominante dos professores se transformou em uma forma de cultura parasitária.

Pode ser que alguém não queira ouvir falar da morte, mas julgar que a pessoa, ou as pessoas, que pedem que lhes seja permitido decidir o final de suas vidas, o que estão pedindo em realidade é que lhes demonstrem carinho, só revela que esse alguém é mestre do disfarce ou que está enganando a si mesmo. O que eticamente poderia ser feito seria conceder a cada pessoa a liberdade que pede. Ou seja, peça e lhe será dado. Se ela realiza o que diz desejar, não há auto-engano, e se não o fizer, sim. Essa seria a única forma de não manipular a verdade. Uma forma de não criar infernos onde a única liberdade que resta é a de escrever cartas, que podem ser dramáticas e aterrorizantes ou otimistas e de auto-engano. E assim o condenado se distrai pensando que no inferno, apesar de tudo, não se passa tão mal.

RAMON SAMPEDRO CAMEÁN

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*néscio [Do lat. nesciu]
Adj. (adjetivo)
1. Que não sabe; ignorante, estúpido.
2. Inepto, incapaz.
3. Insensato, absurdo: "E assim como seria pensamento néscio, e esperança vã, querer um condenado no Inferno ter glória, ou um Bem-Aventurado no Céu ter pena, assim o é querer um peregrino no mundo ter satisfação e descanso." (P.e Manuel Bernardes, Luz e Calor, pp. 253-254.)
S. m. (substantivo masculino)
4. Indivíduo néscio.


E como falo de amor se estou morto?

E como falo de amor se estou morto?
Se nós, os mortos, não temos paixões,
nem dos humanos os sentimentos afetuosos,
dos vivos somos apenas o espanto.

Tudo é incoerência e contradição
para um morto entre os mortais.
Nem a Lua, nem a flor, nem a fêmea o excitam,
porque não tem carne para se reproduzir.

Há coisa mais absurda do que escutar um cadáver
falar apaixonadamente como um humano,
se ele não pode sentir nem o calor nem o frio
nem o prazer nem a dor ou o pranto?

É horrível ser um morto entre os humanos.
Ser o boneco com o qual representam uma paródia absurda
os psicopatas esquizofrênicos vivos
que desfrutam a visão de um cadáver putrefato.

Besuntado com excrementos, babas e loucura
aquele que com asco e fúria, impertinentes, seguem limpando.
E roga libertar-se, o cadáver, de entre os vivos loucos,
mas estes não entendem os silenciosos gritos dos mortos.

E com patético assanhamento continuam animando:
conta, morto, a história do que estás passando;
pareces ser um de nós, os vivos,
aparentas ainda algo de ser humano.

Em vão lhes digo que não!, que estou morto!,
que já não posso falar como eles
porque me parece absurdo falar como os humanos.
E não me deixam ser nem morto nem vivo
estes loucos e alucinados perturbados.

Os sonhos

Mar adentro, mar adentro,
e na leveza do fundo,
onde se cumprem os sonhos,
juntam-se duas vontades
para cumprir um desejo.

Um beijo incendeia a vida
com um relâmpago e um trovão,
e em uma metamorfose
meu corpo já não era meu corpo;
era como penetrar no centro do universo:

o abraço mais pueril,
e o mais puro dos beijos,
até sermos reduzidos
em um único desejo:

Seu olhar e meu olhar
como um eco repetindo, sem palavras:
mais adentro, mais adentro,
até o mais além do todo
pelo sangue e pelos ossos.

Mas sempre acordo
e sempre quero estar morto
para seguir com minha boca
enredada em seus cabelos.

A gaivota

Este pobre marinheiro um tanto ingênuo e idiota
que olha uma gaivota e embarca com o vento

para percorrer o mar.

E embora não tenha corpo,
põe a voar a alma
atada ao pensamento,
que é sua forma de amar e caminhar. (...)


A metamorfose

Não posso conceder-te o que não é meu,
já que hoje é todo teu o que foi meu ontem.
Lembra que disseste que estavas só e sentias frio.
Esqueceste, talvez, que naquela noite deixei, para cobrir-te,
todo o meu ser.

Em cada entrega há uma metamorfose
e o que se entrega jamais se pode voltar a possuir.
É certo que às vezes o ser nos é devolvido depois de amado.
Mas embora pareça que é sempre o mesmo,
acaba sempre de renascer.

Como não quero que me devolvas esse meu ser que amaste,
faze-me um favor, se puderes.

Disseste que gostavas de senti-lo próximo.
Se não te importa, gostaria que ficasses com ele.
Sempre teve como ideal acariciar
eternamente o coração de uma mulher.

Por que morrer?

Por que morrer?
Porque o sonho se tornou pesadelo.
Porque a razão humana é mais hipocrisia e menos verdade.
E a liberdade é apenas, para os ingênuos, uma inalcançável utopia.

Morrer é um ato humano de liberdade suprema.
É ganhar de Deus a última partida.
É passar, democraticamente, uma rasteira na dor por amor à vida.

É ir atrás de um novo céu onde, talvez, a glória nos sorria,
porque este que nos abriga tem uma eterna cara de cão raivoso
que nos humilha, latido a latido, segundo a segundo,
cada vez com maior fúria, deixando-nos um pouco mais escarnecidos.

Morrer é arriscar com uma só carta toda nossa vida.
É apostar tudo no desejo de encontrar um luzeiro que nos ilumine um novo caminho.

E se perdemos a aposta, só perderemos a desesperança e a dor infinita.
Só perderemos o pranto que, lágrima após lágrima, nos inunda a alma.

Como o náufrago que, depois de afundado o barco,
só espera, com a resignação do vencido, esgotar a força da última braçada
para entregar-se, como o amante submisso, às ternas carícias de seu mar amado;
a seu beijo salgado e arrulhos de brisas.

E se ganhamos a aposta da morte, se a sorte esquiva uma única vez nos olha,
ganharemos o céu, porque no inferno já passamos toda nossa vida.

Por que morrer?
Porque toda viagem tem sua hora de partida. E todo aquele que parte de viagem
tem o privilégio, e o direito, de escolher o melhor dia de saída.

Por que morrer?
Porque às vezes a viagem sem retorno é o melhor caminho
que a razão pode nos ensinar, por amor e respeito à vida.
Para que a vida tenha uma morte digna.

Ao meu filho

Perdoa-me, filho, por não teres nascido.
Não foi culpa minha deixar-te para trás.
Beijei as flores que encontrei em meu caminho.
A culpa foi do verbo pecar.

Eu te vi sorrindo naqueles olhos
que me contemplavam assombrados e inquietos,
mas sempre entre nossos desejos se interpôs
o tabu... pecado. Não tive culpa,
foram as rosas que tiveram medo.
Talvez para proteger-te, inconscientemente, do inferno.

Perdoa-me por não ter podido brincar contigo.
Sinto muito que não me deixem voltar atrás.
Não sei se terás nascido depois de eu passar.
Não importa. Lembra sempre que continuo a te querer.

Dá um beijo em tua mãe de minha parte.
E não me guardes rancor, odiar não é bom.

Um amigo

Um amigo
que sinta como eu o mesmo latejo;
um amigo
cujo coração seja o meu, e o meu o seu;
um amigo
cuja dor seja a minha dor;
um amigo
para pôr fim à dor infinita;
um amigo
que me empreste a mão para meu suicídio;
um amigo
que não acredite em deuses mas sim no amigo;
um amigo
que nos dê o golpe mortal quando estamos mortalmente feridos.
Esse amor existe, mas está proibido.

A alternativa da morte

A qualidade da vida consiste em uma conformidade prazerosa, uma percepção harmônica do corpo e da mente com o todo ao qual estão condicionados e sujeitos os sentimentos pessoais. Quando não é assim e sobrevivemos por simples temor à morte, a morte é a única alternativa racional para libertar a vida do sofrimento. Quando não há qualidade de vida, quando o caos é total, não há mais alternativa a não ser a desintegração da matéria para renascer.


Trechos de cartas:

(...) Porque há vida em minha cabeça, mas uma vida racional, creio e penso que a liberdade é a única coisa que dá sentido à vida. A liberdade é o anseio mais forte de todo ser que possui a capacidade de movimento. Pode-se renunciar a grande parte desse movimento e ainda sentir-se livre. E haverá quem se resigne a sobreviver sem nenhuma liberdade de movimento. Eu não. Não aceito a vida sem a mínima liberdade de movimento que dê a meu corpo a possibilidade de sobreviver por mim mesmo. Sem essa liberdade mínima não se pode sentir felicidade ou alegria.

Há animais que sem liberdade nem sequer se reproduzem. Outros morrem de tristeza e de melancolia se são privados de sua liberdade. Eu também sou um animal, mas que tem a capacidade de se perguntar sobre qual é o sentido da vida, e sempre chego à mesma resposta: o sentido da vida é a liberdade de ser livre para viver, amar e morrer, mas livre, livre, livre...

Mas minha liberdade é a liberdade de todo ser vivente, da vida toda. Não se trata somente do meu desejo egoísta e cobiçoso de gostar de mim mesmo, ou de meus familiares e amigos, mas de gostar de todos os seres humanos que foram meus pais e mães, e de todos os seres humanos que são e serão nossos filhos, e de todos os seres viventes que são e serão nossos irmãos. Que grande paradoxo, não?, a quantos matarão até sua extinção.

Deixando de lado a origem e o princípio dessa espécie, minha vida pertence a essa espécie, mas antes pertence a mim como indivíduo celular desse grupo. O grupo dominante dessa espécie pode negar-me a liberdade de minha morte voluntária, se com o meu ato ponho em perigo a própria espécie, ou a vida e a liberdade de alguns de seus indivíduos. Mas eu nunca ofendo nenhum desses dois princípios com o ato de terminar minha vida.

Você compreende por que me é negado esse ato de liberdade, de respeito e de amor por mim mesmo, que não é, no fim das contas, mais do que um gesto de amor e respeito à própria vida? A resposta é óbvia: para manter o princípio de autoridade, não por amor e respeito à vida, à espécie ou ao indivíduo.

Desse modo nunca me respeitaram. Meu raciocínio e minha consciência passarão da vida à morte sendo escravos de outras consciências. Terei sofrido a escravidão mais atroz e imoral só porque isso convinha politicamente a meus amos. Em um dado momento eles aboliram a escravidão dos corpos, mas, ao que parece, têm muito mais medo da liberdade da consciência.

O conceito constitucional da dignidade da pessoa não pode ater-se a um simples direito de que a pessoa não pode ser torturada, humilhada, pelo poder e pela autoridade do Estado. Teríamos que entender que a pessoa tem o direito de não ser humilhada pela tortura do sofrimento inútil, irremediável e atroz. (...)

Enquanto uma pessoa pode cuidar de si mesma, seja em cadeira de rodas, com muletas ou bengala, sempre que essa pessoa se acreditar livre, sua vida terá sentido. E quando esse sentido acabar, de acordo com a razão humana, então será a hora de morrer. "Há um tempo para tudo sob o sol."

Sim, pensei muitas, muitas vezes se valeu a pena sobreviver todos esses anos. Não, não valeu para nada o meu sofrimento, nem tampouco a dor que meu sofrimento causou. Se eu tivesse tido a liberdade de morrer a tempo, a dor teria tido a medida do amor humano. Teria deixado meu olhar em outro olhar, meu sorriso em outro sorriso, toda minha lembrança de agradecimento para quem houvesse me ajudado, por amor e respeito, a me despojar de meu corpo. Teria deixado, como o sol deixa, quando submerge no mar ao anoitecer, pintado no céu o mais belo e impressionante quadro: um gesto sereno como uma carícia de despedida antes de ir dormir. Como uma pupila que, lentamente, vai cerrando a pálpebra imensa do céu pintado de vermelho, e à medida que se eleva vai se esfumaçando em ouro, ocre e azul, até unir-se no alto com o sonho escuro da noite, que a empurra para baixo, muito pouco a pouco, com tanta ternura que mais parece que alguém invisível o está embalando para que adormeça.

Morrer é só isso. Deitar para dormir quando se está muito cansado, sereno e tranqüilo, sem medo do sono, sem tristeza nem rancor mesquinho, deixando no mundo uma recordação boa de nós mesmos, em tudo o que amamos, como o sol deixou sua mais bela despedida gravada em minha lembrança. Mas para isso devemos ser tão livres, tão livres, tão bons, tão bons, que talvez seria desejar que os humanos fossem demasiado humanos.

Pessoalmente, penso que para tolerar a eutanásia, ou o direito para morrer com dignidade, é preciso amar de verdade as pessoas e a vida, e ter um profundo sentido de bondade. (...)

(...) gostaria de lhe dizer – parodiando Neruda – que a ternura cai na alma como o orvalho na relva, mas não pode porque isso tampouco basta. (...)

(...) Não é desespero. É lógica racional. A idéia da morte nessas condições é mais do que um simples desejo de se separar da vida. É o desejo de terminar uma existência que não se ajusta dentro das leis de minha razão.

Não há beleza possível porque não resta esperança. E quando não resta beleza à vida, a morte nos é oferecida, a poesia do sonho que busca a razão. Não é preciso dar mais voltas. O ser humano não aceita sua mortalidade porque a lei universal do medo da morte não lhe permite. Uma pessoa pode sobreviver com a ajuda de seus semelhantes. Pode e deve ser assim, se ela pede essa ajuda. Mas, quando uma pessoa não pode sobreviver por seus próprios meios e recorre aos seus próximos, estes lhe devem prestar a ajuda que ela solicita, e não a que eles querem lhe dar de acordo com seus preconceitos morais. (...)

Minha incapacidade física me causa um sofrimento do qual não posso me libertar. Isso provoca em mim uma humilhação que meu conceito de dignidade não admite. Quem me causa essa humilhação? A vida, a circunstância. Não é deus, nem sua vontade, porque não creio nela. Mas em um relatório que o Ministério de Assuntos Sociais pediu a não sei quais conselheiros ou autoridades sobre o tema da eutanásia, o porta-voz desse conselho afirmou que não se pode saber quando um sofrimento é ou não insuportável. Como, então, podem julgar? (...)


Hoje se passaram vinte e sete anos

Hoje, vinte e sete anos depois, o inferno segue sendo minha morada. Tenho ao meu redor seres que me amam. Eles cuidam de mim com paciência, respeito e carinho, mas não posso tocá-los, nem lhes agradecer com uma carícia de minha mão. Sigo no inferno porque ouço a chuva, mas sei que não pode acariciar meu corpo, como antes fazia. Sigo no inferno porque não posso expressar o amor a uma mulher como meu cérebro deseja. Ela diz que com a minha boca lhe basta. Que a minha forma de ser é suficiente para que se sinta plena e satisfeita. No entanto, intuo que sente saudade de meu sexo, a forma que tinha, minha maneira de interpretá-lo e vivê-lo com outras mulheres, que ela diz sempre imaginar. Ela me assegura que minha ternura lhe basta para se sentir mulher. Mas para mim, não. Nós nos sentimos como mulheres e homens através de nossos corpos. Ela não é capaz de entender o que significa não sentir nada sexualmente. Sim, imagina, mas não sabe o que nada significa com respeito à sensibilidade corporal.

Vi e senti as chamas do inferno quando Rosita, a menor de minhas queridas sobrinhas – tinha então três meses –, foi deixada sozinha comigo. Manuela, minha cunhada, a pessoa que torna mais suportável essa vida que não aceito viver, me disse que se a nenê chorasse a única coisa que deveria fazer era falar um pouco com ela. A nenê começou a chorar e eu lhe falava, lhe falava e, quanto mais coisas lhe dizia, mais ela chorava. Depois começou a tossir; eu percebi como ela engasgava, e, diante de minha impossibilidade de acalmá-la com minhas palavras, achei mais prudente me calar. Fiquei aterrorizado com a possibilidade de que se asfixiasse, e eu deitado em minha cama sem poder fazer nada. Sempre lembrarei daquele dia como o auge da impotência. Como naquela tarde em que minha mãe – morreu de pena pelo que me acontecera, mas os médicos lhe diagnosticaram um câncer – caiu no meio do corredor. Também estávamos sozinhos. Ela havia desmaiado e eu, a dois passos dela, não podia ajudá-la. Pensei em sua morte e se repetiu a imagem de minha cabeça unida ao peso de um corpo morto, só ela funcionava.

Então tive de novo a visão rápida do passado. Lembrei do riso de minha mãe, sua ternura, a voz clara e profunda que falava comigo, quando pequeno, e os olhos, seus olhos que me perguntavam mil coisas que sua voz não se decidia a formular, quando eu voltava de viagem. E lembrei daquele movimento tão triste de seus lábios quando me disse, ao lado de meu pai: "Nós o preferimos assim. Não queremos vê-lo morto". E eu sei, porque me contaram depois que ela se foi, que, após o sorriso que esboçava em meu quarto, ela passava o dia chorando por todos os cantos da casa. "Talvez naquela tarde também tenha chorado" – lembro de ter pensado nisso naquele dia, enquanto ela jazia inerte no solo. E nunca pude saber. Quando recuperou consciência não perguntei, e ela, como sempre, selou seus lábios com o silêncio. Em poucos dias foi embora do inferno que suportou durante doze anos.

Evoco tantas coisas desses vinte e sete anos. Evoco tantas situações desde a imobilidade, que mil e uma vezes perguntarei, gritarei se for necessário: por que me foi negada a liberdade de morrer a tempo? Por que fui condenado a essa morte em vida que é olhar o céu, da cama, olhar o mar, da cama, ver os seres humanos, da cama, e sentir que para mim terminou a possibilidade de demonstrar amor? Eu, que tanto havia amado as mulheres, tive que renunciar a esse amor faz mais vinte e sete anos. Intuía que era a forma de sofrer menos – e ainda continuo a acreditar –; vinte e seis anos depois voltei a experimentar a doçura de uns lábios. Já havia quase esquecido esse carinho. Voltou com os beijos o amor da mão de uma mulher a quem eu adoro, mas também regressou o inferno, porque também retornou o desejo de sentir meu corpo abraçando o seu, mas a impotência nem me permite acariciá-lo com a mão. Quando falamos da minha necessidade de morrer, percebo que se entristece, mas ela sabe que não pode me fazer mudar de idéia, ela entende meu sofrimento, e me diz: "Jamais discutiremos por que você pede a eutanásia". Sei que gostaria que eu lhe dissesse: "Desde que nos amamos já não quero morrer". Mas não espera por isso, tem gravada em sua mente uma frase minha na qual dizia que só uma pessoa egoísta poderia pedir que eu voltasse atrás. Em lugar disso me escuta com um sorriso irônico quando lhe digo: "Depois de morto virei até sua cama e tocarei todo o seu corpo e poderemos nos possuir um ao outro."

Uma vez me disse: "Nunca ouvi ninguém contar que um morto voltou para fazer amor". Eu rio, mas penso muito sério, muito sério, desde o mais profundo da matéria pura, que o mesmo sucede a um tetraplégico, jamais nenhum voltou a sentir seu corpo entrelaçado ao de uma mulher exceto em sonhos. Ela ri, mas adivinha meu pensamento e responde muito séria, muito séria, com a coerência e a convicção do ser que guarda respeito, que o que eu peço é justo, e que já não posso passar mais tempo nesta vida, que me obrigaram a suportar ano após ano, num total de vinte e sete.

Vinte e sete anos passados, faço o balanço do caminho percorrido e não obtenho o cômputo da felicidade. Não fui pela vereda que queria ir. O tempo transcorreu contra a minha vontade. Fui um tormento para os seres queridos e fui, ao mesmo tempo, atormentado pela dor deles. Hoje sigo na mesma condição que vinte e sete anos atrás. Manoel, o homem que levantou minha cabeça da água para perguntar o que havia acontecido, modificou, com seu gesto, a mecânica universal do destino, que naquele instante estava se projetando para a libertação material do meu corpo. Quero sair do inferno, pois me pergunto: Que sentido tem a dor absurda contra a vontade do ser humano?

RAMON SAMPEDRO CAMEAN
Sieira 1.11.1995



Carta de despedida de Ramón Sampedro

Esta é a carta inédita que Ramón Sampedro escreveu para sua família pouco antes de morrer.
Reproduzimos o original em galego e sua tradução em português.
Pela primeira vez a família de Ramón entregou este documento comovedor para sua publicação (N. do ed.)



Querida família:

Quando vocês lerem esta carta espero estar dormindo para sempre.

Também espero que entendam que isso era o que eu queria havia muitos anos, e peço que façam o possível para que pareça uma morte natural.

A pessoa para quem pedi o favor de colocar as pílulas para dormir no frasco de sal de frutas foi uma criança que estava por aqui, mas não era consciente do que estava fazendo.

Se vocês lembram, havia um frasco quase vazio com um pouco de sal de frutas. Nele pedi que fossem colocadas as pílulas para dormir e as deixei ali por um certo tempo para que ninguém pudesse saber quem foi. Depois, tomá-las foi coisa fácil: ao último que ficou comigo para virar-me ou para ver TV, antes de ir dormir, pedi um copo com água com um pouco de sal de frutas, e esta pessoa me deu, sem saber, o conteúdo das pílulas para dormir.

Por isso lhes peço que não façam perguntas a ninguém. Chamem meu médico, Carlos Peón. Se ele confirmar que foi morte natural, destruam esta carta e nada mais, mas, se por qualquer motivo quiserem me fazer uma autópsia, então mostrem esta carta. Creio que serão suficientemente honrados para não colocá-los em um processo absurdo!

Repito que o melhor que vocês podem fazer é não dizer para ninguém que tomei uma dose excessiva de soníferos, porque a primeira coisa que as pessoas perguntarão é... quem os deu?

E por mais que vocês digam a verdade, e ainda que não haja nenhuma denúncia, as más línguas, as pessoas mesquinhas para as quais só interessam os mexericos e caluniar, vão dizer que foram vocês que me deram as pílulas, ou outras calúnias piores.

Eu gostaria que o fim do meu convívio com vocês fosse de outra maneira. Preferiria contar com a colaboração de vocês. Despedir-me de todos, como quem sai para uma longa viagem, ou como se fosse navegar, ou emigrar – já que a morte é isso, um sonho ou uma longa viagem.

Mas nunca confiei. Sempre tive medo de que, se pedisse para alguém que me fizesse o que fez a inocência de uma criança, isto acabasse – como acabam todos os segredos – sendo conhecido por todo mundo, ou seja, um segredo público.

Espero que quando se lembrarem de mim em uma conversa familiar, e se perguntarem os motivos, ou o porquê, nunca lhes ocorra que – talvez – isso aconteceu porque não me senti bem tratado. Não é isso!

Não é possível dar mais apoio, mais respeito, amor, carinho e calor humano solidário a ninguém. Quer dizer, não se pode fazer nada mais do que vocês fizeram por mim.

Mas o que não podemos dar a ninguém, por mais que queiramos, é a esperança. Essa só nasce no âmago de nós mesmos. Eu perdi a minha no dia em que me disseram que não havia mais nada a fazer para me curar.

A vida tem que ter um sentido. E tem sentido enquanto esperamos algo. Quase nunca – ou nunca – sabemos o quê, mas enquanto dispomos de um corpo sensível e vivo que nos possibilita desfrutar da sensação de liberdade que nos dá o movimento, sempre teremos essa sensação de poder ir de um horizonte a outro, em busca desse algo indefinido e maravilhoso que nos libertará da rotina e do cansaço monótono de lutar para viver de uma maneira normal.

Viver é como jogar na loteria. Se pensarmos bem, sabemos que as possibilidades de alcançar a felicidade que queremos são de uma em um milhão, dez ou vinte, mas continuamos a jogar porque há uma possibilidade. Resta um lugar para a esperança. Mas se ficamos sem o corpo, é como se ficássemos com a esperança insuficiente de poder ganhar um prêmio miserável, mas nunca um importante. Existem os que querem jogar dessa maneira, mas eu não. Eu quero jogar a loteria proibida, a da morte. Quem sabe além da vida haja outra loteria, e se jogarmos essa talvez possamos conseguir um dos prêmios importantes. Há uma esperança na incerteza!

Quando iniciei os trâmites para pedir, pelo caminho judicial, o direito a uma morte voluntária, todos simplificavam o assunto com a frase: Parece que você quer morrer!

Ninguém quer morrer, mas se nos encontramos em uma encruzilhada e já conhecemos o horror que é um dos caminhos, o mais lógico será seguir pelo outro, porque, ainda que não o conheçamos, temos a esperança de que possa ser melhor.

Foi isso que decidi: o caminho que me esperava era – como foi até aqui – horrível. Então decidi seguir pelo outro.

Levo uma bela lembrança de vocês, e espero que conservem uma igual de mim.

Se me querem bem – e eu sei que sim – devem ficar contentes em vez de tristes, pois por fim terminou meu pesadelo depois de tantos anos.

Morrer nada mais é do que se deitar para dormir um longo sono. Que cada um de vocês seja feliz no resto do caminho que lhes resta pela frente. Com paciência, serenidade e o ânimo alegre, tenho certeza de que será assim.

Vale a pena viver a vida enquanto podemos nos servir dela por nós mesmos: quando não puder ser assim, é melhor terminá-la, pois continuar não tem sentido. Essa possibilidade deveria ser um ato de liberdade pessoal, deveria ser mais fácil conseguir ajuda quando dela necessitamos. Isso também seria uma forma de amor!

Perdoem-me por ir embora sem me despedir.

Às vezes demonstramos mais amor por uma pessoa quando lhe oferecemos ajuda para morrer e não para viver.

Amei-os o melhor que pude e soube. Todos vocês me quiseram do mesmo modo. Só posso lhes pagar com a maior mostra de gratidão: morrendo. E vocês, respeitando a minha vontade.

FIM


Links:
http://www.terra.com.br/istoegente/305/diversao_arte/livros_cartas_inferno.htm
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u49062.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u49592.shtml
http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=458
http://www.bravonline.com.br/noticias.php?id=1206
http://www.leialivro.sp.gov.br/texto.php?uid=7290
http://leialivro.sp.gov.br/texto.php?uid=8146
http://www.comciencia.br/resenhas/2005/05/resenha1.htm
http://www.screamyell.com.br/cinemadois/maradentro.htm
http://cinema.uol.com.br/dvd/2005/09/13/mar_adentro.jhtm
http://cinema.uol.com.br/ultnot/afp/2005/03/18/ult2609u2.jhtm
http://cinema.terra.com.br/ficha/0,,TIC-OI5324-MNfilmes,00.html
http://www.cineplayers.com/critica.php?id=410
http://www.zerozen.com.br/video/maradentro.htm
http://canais.ondarpc.com.br/gazetadopovo/cadernog/conteudo.phtml?id=440795


terça-feira, março 06, 2007

 

Saudade do Brasil (II)



Adriana é outra blogueira brasileira que vive na Espanha, em La Coruña (perto de Santiago de Compostela). Sua característica é enviar, a todos aqueles a quem escreve, beijos & abraços “do outro lado do oceano”. Escreveu, inclusive, um post sobre isto, recentemente, em seu blog. Assim como a Thelma, saudosa do Brasil, enviei algumas letras de músicas a ela e gostaria, agora, de deixar melodia & voz...





Na volta que o mundo dá
Vicente Barreto & Paulo César Pinheiro


Um dia eu senti um desejo profundo
De me aventurar nesse mundo
Pra ver onde o mundo vai dar

Saí do meu canto na beira do rio
E fui prum convés de navio
Seguindo pros rumos do mar

Pisei muito porto de língua estrangeira
Amei muita moça solteira
Fiz muita cantiga por lá

Varei cordilheira, geleira e deserto
O mundo pra mim ficou perto
E a terra parou de rodar

Com o tempo
Foi dando uma coisa em meu peito
Um aperto difícil da gente explicar

Saudade, não sei bem de quê
Tristeza, não sei bem porquê
Vontade até sem querer de chorar

Angústia de não se entender
Um tédio que a gente nem crê
Anseio de tudo esquecer e voltar

Juntei os meus troços num saco de pano
Telegrafei pro meu mano
Dizendo que ia chegar

Agora aprendi porque o mundo dá volta
Quanto mais a gente se solta
Mais fica no mesmo lugar



Bye-bye, Brasil
Roberto Menescal & Chico Buarque/1979
[Para o filme “Bye-bye Brasil”, de Carlos Diegues]

Oi, coração
Não dá pra falar muito não
Espera passar o avião
Assim que o inverno passar
Eu acho que vou te buscar
Aqui r fazendo calor
Deu pane no ventilador
Já tem fliperama em Macau
Tomei a costeira em Belém do Pará
Puseram uma usina no mar
Talvez fique ruim pra pescar
Meu amor

No Tocantins
O chefe dos parintintins
Vidrou na minha calça Lee
Eu vi uns patins pra você
Eu vi um Brasil na tevê
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo tão só
Oh, tenha dó de mim
Pintou uma chance legal
Um lance lá na capital
Nem tem que ter ginasial
Meu amor

No Tabariz
O som é que nem os Bee Gees
Dancei com uma dona infeliz
Que tem um tufão nos quadris
Tem um japonês trás de mim
Eu vou dar um pulo em Manaus
Aqui r quarenta e dois graus
O sol nunca mais vai se pôr
Eu tenho saudades da nossa canção
Saudades de roça e sertão
Bom mesmo é ter um caminhão
Meu amor

Baby, bye-bye
Abraços na mãe e no pai
Eu acho que vou desligar
As fichas já vão terminar
Eu vou me mandar de trenó
Pra Rua do Sol, Maceió
Peguei uma doença em Ilhéus
Mas já tô quase bom
Em março vou pro Ceará
Com a benção do meu orixá
Eu acho bauxita por lá
Meu amor

Bye-bye, Brasil
A última ficha caiu
Eu penso em vocês night and day
Explica que tá tudo okay
Eu só ando dentro da lei
Eu quero voltar, podes crer
Eu vi um Brasil na tevê
Peguei uma doença em Belém
Agora já tá tudo bem
Mas a ligação por no fim
Tem um japonês trás de mim
Aquela aquarela mudou
Na estrada peguei uma cor
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo um jiló
Eu tenho tesão é no mar
Assim que o inverno passar
Bateu uma saudade de ti
Tô a fim de encarar um siri
Com a benção de Nosso Senhor
O sol nunca mais vai se pôr



Querelas do Brasil
Maurício Tapajós & Aldir Blanc


O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Tapi, jabuti, liana, alamandra, alialaúde
Piau, ururau, aquiataúde
Piau, carioca, moreca, meganha
Jobim akarare e Jobim açu
Oh, oh, oh
Pererê, camará, gororô, olererê
Piriri, ratatá, karatê, olará

O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil
Gereba, saci, caandra, desmunhas, ariranha, aranha
Sertões, guimarães, bachianas, águas
E marionaíma, ariraribóia
Na aura das mãos do jobim açu
Oh, oh, oh
Gererê, sarará, cururu, olerê
Ratatá, bafafá, sururu, olará

Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Tinhorão, urutú, sucuri
O Jobim, sabiá, bem-te-vi
Cabuçu, cordovil, Caxambi, olerê
Madureira, Olaria e Bangu, olará
Cascadura, Água Santa, Pari, olerê
Ipanema e Nova Iguaçu, olará
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Do Brasil S.O.S. ao Brasil



Brasil pandeiro
Assis Valente

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui à Penha e pedi à padroeira para me ajudar
Salve o Morro do Vintém, pendura a saia que eu quero ver
Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar
O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato
Vai entrar no cuscuz, acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada de Ioiô e Iaiá

Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar
Há quem cambe diferente, noutras terras, outra gente
Um batuque de matar
Batucada, reuni vossos valores, pastorinhas e cantores
Expressões que não tem par, oh meu Brasil, Brasil
Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar



Aquarela do Brasil
Ary Barroso (1939)

Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
O Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil, pra mim
Pra mim, pra mim
Ah, abre a cortina do passado
Tira a Mãe Preta do cerrado
Bota o Rei Congo no congado
Brasil, pra mim
Pra mim, Brasil
Deixa cantar de novo o trovador

À merencória luz da lua
Toda canção do meu amor
Quero ver a Sá Dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil, pra mim
Pra mim, Brasil
Brasil, terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
O Brasil, verde que dá
Para se admirar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil, pra mim
Pra mim, pra mim
Oh, esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil, pra mim
Pra mim, Brasil
Ah, ouve essas fontes murmurantes

Ah, onde eu mato minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah, este Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Pra mim, Brasil
Brasil, pra mim



Tanto mar
Chico Buarque
1975
(primeira versão)*


Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

*Letra original, vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975.


Tanto mar
Chico Buarque
1978
(segunda versão)


Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

Esta última foi difícil escolher uma só versão... (da Elis, antológica; do MPB4 & Quarteto em Cy, emocionante; da Vânia Bastos, com acompanhamento de cordas, arranjo & regência de Francis Hime, sensível, tocante)




Sabiá
Tom Jobim & Chico Buarque/1968


Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De uma palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor
Talvez possa espantar
As noites que eu não queria
E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Beijo, abraço & carinho, Adriana, do lado de cá do oceano...


Link Caminho de Santiago de Compostela:
http://www.santiago.com.br/toc.htm



domingo, março 04, 2007

 

Saudade do Brasil (I)


No disco Urubu, de Tom Jobim, há a linda canção instrumental "Saudade do Brasil", conhecem? Foi esta mesma pergunta que fiz à Thelma, blogueira brasileira, que vive na Espanha (em Madri) e sente muita saudade daqui...

Lembro-me que quando Tom morreu, em 8 de dezembro de 1994, nos EUA, a TV Bandeirantes, entre outras emissoras, cobria o traslado do seu corpo ao país. Como fundo musical, tocava, incessantemente, "Saudade do Brasil". Daí, em diante, pra mim, esta música tornou-se triste, pois a associei com a perda do nosso querido "maestro soberano"...

Quis, então, deixar a canção aqui, pra Thelma, de longe, poder ouvi-la. E também o Chico, cantando “Paratodos”, no CD homônimo
, acompanhado por: Luiz Cláudio Ramos (violão/guitarra); João Rebouças (piano/teclados); Wilson das Neves (bateria); Rildo Hora (realejo/gaita); Dominguinhos (acordeom); Jorge Helder (baixo); Marcelo Bernardes (flauta); Franklin (flauta); Cidinho (percussão); Mestre Marçal (percussão); Rio Quartet (violinos, viola & cello).







Paratodos
Chico Buarque/1993


O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro

Foi Antonio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas

Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro

Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho

Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto

Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens à vista

O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro


Marcelo Leite escreveu, na FOLHA:

Urubus
São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994



“(...) A generosidade estético-ecológica de Tom Jobim não excluía nem o urubu. Ele teve até um disco com o nome desse bicho repugnante capaz de voar com majestade.” (...)


Site Chico Buarque: http://chicobuarque.uol.com.br/



quinta-feira, março 01, 2007

 

O prazer de comer


Ganhei, do Arnaldo e da Cê, 2 livros:




As mulheres franceses não engordam [Mireille Guiliano, Tradução: Marisa Murray, Editora Campus, 2005]










A não dieta dos franceses [Dr. Will Clower, Tradução: Ana Beatriz Rodrigues, Editora Campus, 2006].




Imaginem por que...!?!

Sim, sou mais uma, entre muitas, com excesso de peso, insatisfeita com o corpo, mas sem disciplina, força de vontade, resistência pra abandonar todas as delícias gastronômicas que nos rodeiam (pizzas, pães, massas, doces, etc.), e fazer, diariamente, exercícios físicos (caminhada, academia, natação, bicicleta, ou coisa que o valha!). Comecei o
Pilates (incentivada por uma amiga de muitos anos*), adorei, recomendo, mas chegou uma hora que não conseguia mais me olhar no espelho da sala de aula, de corpo inteiro, ou ter pique pra realizar os exercícios. Abandonei, depois de alguns meses, mas pretendo, ainda, voltar...

Quem são os autores:

Mireille Guiliano
Nascida e criada na França, Mireille Guiliano foi pela primeira vez para os Estados Unidos como estudante de intercâmbio e retomou definitivamente no começo de sua carreira profissional. É presidente e CEO da Clicquot Inc., em Nova York, e diretora da Champagne Veuve Clicquot em Reims. Casada com um americano, Mireille mora a maior parte do ano em Nova York e faz viagens freqüentes a Paris. Seus passatempos favoritos são café-da-manhã, almoço e jantar.

[extraído do livro “As mulheres franceses não engordam”, pág. 201]

CEO - Chief Executive Officer - É o cargo mais alto da empresa. É chamado também de presidente, principal executivo, diretor geral, entre outros. [Você s/a - Novembro/2002 - Edição 53]


O Dr. Will Clower é um premiado neurofisiologista, americano. Ele é fundador e presidente da Mediterranean Wellness, Inc., instituição que administra o The PATH Healthy Eating and Weight-Loss Curriculum, um programa adotado por grandes clientes corporativos americanos. Frequentemente é citado em publicações francesas, tais como Marie Claire, Woman's World e Fitness. O Dr. Clower vive em Pittsburgh.





Soube que a autora lançou um 2° livro, na mesma linha:
Os Segredos das Mulheres Francesas [Mireille Guiliano, Editora Campus, 2006].





.

Seguem alguns trechos dos 2 livros que tenho, acho que vale a leitura e adesão a alguns preceitos...

Orelhas do livro As mulheres franceses não engordam:

“(...) As mulheres francesas não engordam, mas apreciam pão, doces, vinho e regularmente três refeições por dia. Revelando os segredos desse "paradoxo francês" – como elas gostam de comer enquanto se mantêm magras e saudáveis –, Mireille Guiliano nos dá uma fascinante lição sobre como cuidar da saúde e dos alimentos que ingerimos.

Como uma garota francesa, Mireille foi para os Estados Unidos como estudante em um intercâmbio e voltou gorda. Felizmente, o bom médico de sua família, "Dr. Milagre", veio em seu auxílio. Reapresentando-a aos clássicos princípios franceses da gastronomia e aos truques consagrados pelas mulheres locais, ele ajudou-a a recuperar a boa forma por meio de um novo conhecimento sobre alimentação, bebidas e hábitos. O segredo? Nada de culpa ou privação, mas aprender a tirar o máximo das coisas de que você gosta mais. Mireille, desde então, deleita-se de uma vida de indulgências sem engordar, satisfazendo desejos sem ioiô, com três refeições por dia.

Agora, em uma simples, porém eficiente estratégia e dezenas de receitas que você jura que são engordativas, ela revela os ingredientes para uma vida inteira de controle de peso: desde o remédio de emergência do fim de semana – a Sopa Mágica de Alho-poró – até os truques de todo dia, emagando a si mesma mas com satisfação. Dando ênfase a frescor, variedade, equilíbrio e sempre prazer, Mireille mostra como qualquer pessoa pode aprender a comer, beber e andar como uma mulher francesa. (...)

Para qualquer mulher que tenha deixado acidentalmente um carboidrato passar pelos seus lábios, aqui está uma esperançosa maneira de ficar equilibrada: os mais preciosos segredos de remodelação para o século XXI.

Uma vida de vinho, pão e até chocolate sem medidas e sem culpas? Por que não?”



“(...) Fase um: Toque de despertar: um antiquado inventário de refeições durante três semanas. Um olhar límpido e honesto sobre o que você está comendo, o que, por si só, mesmo depois de alguns dias, pode decretar sua virada.

Fase dois: Transformação: introdução à escola francesa de porções e diversidade de alimentação. Você irá identificar e, temporariamente, suspender alguns "agressores" de primeira linha em geral. Isto é um processo de três meses, embora em alguns casos um mês seja o suficiente. Não será um manual de dieta, apenas uma oportunidade para o seu corpo ser recalibrado. Há uma disciplina, mas a flexibilidade é de vital importância principalmente neste estágio-chave de motivação: o valor de evitar a rotina tanto nas refeições como nas atividades, dando ênfase à qualidade sobre a quantidade. Nada de pizza por três dias seguidos, mas também nada de três horas na academia no sábado. Você vai aclimatar seus cinco sentidos a uma nova gastronomia (palavra grega, antes mesmo de ser francesa, significando "regras do estômago"). Três meses não é um tempo curto, mas também não é longo demais para algo que nunca mais vai precisar fazer novamente. Naturalmente, leva mais tempo para transformar os hábitos do corpo do que perder três quilos e meio de água, a parte inicial de muitas dietas extremistas. Mas, como o programa é francês, vamos ter prazeres, muito deles.

Fase três: Estabilização: um estágio no qual tudo o que você gosta de comer vai ser reintegrado em justas medidas. Você já reprogramou o "equilíbrio" e deve estar pelo menos na metade do caminho de sua meta de perda de peso. Espantosamente, neste ponto já pode aumentar suas indulgências e continuar a emagrecer ou apenas manter seu equilíbrio se já chegou lá. Dou o conselho de pôr em prática idéias sobre estações do ano e tempero, ferramentas importantes e que não dão o trabalho que algumas possam imaginar. Apresento várias receitas baseadas no talento francês para variações sobre um tema e como fazer três pratos fáceis partindo de um só com resultados deliciosos, economia de tempo, dinheiro e calorias.

Fase quatro: O resto de sua vida. Você alcançou a meta de seu peso, um equilíbrio estável e o resto são apenas refinamentos. Conhece bastante seu corpo e preferências para fazer pequenos ajustes no caso de quaisquer inesperadas compulsões, principalmente quando entrar em fases novas da vida. Seus hábitos de comer e viver estão condicionados agora a seus gostos e metabolismo, assim como uma roupa clássica de Chanel deve durar para sempre com pequenas alterações no correr dos anos. Agora, você está comendo sob um enfoque inteiramente diferente, com uma intuição que rivaliza com a de qualquer francesa – um respeito adquirido por frescor e sabor que abre um mundo de prazeres sensoriais a serem descobertos na apresentação, cor e variedade dos alimentos. O que vai fazer será por prazer e não por castigo. Vai saborear chocolate e um copo de vinho ao jantar. Pourquoi pas? (por que não?)

Além da alimentação, que é o assunto primordial, vou descrever aspectos de vida saudável que também têm que ser agradáveis. Assim como a comida, esses não requerem medidas extremas (físicas, emocionais, intelectuais, espirituais ou financeiras), apenas um senso de controle. Incluem elementos - que gosto de chamar Zen francês – que podem ser aprendidos rápida e facilmente e praticados por qualquer pessoa (de modo geral, as francesas não freqüentam academias, mas, se isso lhe dá prazer, à chacun son goût! (Cada um a seu bel-prazer). Até as francesas sabem que há coisas mais importantes na vida do que comer, então você verá que as francesas também têm outras diversões, tais como amar e rir. Do começo ao fim, será importante reconhecer que o ponto de vista de Montaigne é mais relevante hoje do que nunca. Um corpo e uma mente saudáveis trabalham juntos. Para manter ambos, nada melhor do que joie de vivre (alegria de viver), uma expressão para a qual não há equivalente na América.

Agora, tenho algumas histórias para contar, na realidade algumas dúzias delas. Encontro prazer em contar histórias, assim como em beber e comer. Elas trarão à luz conceitos básicos, mas espero que gostem delas comme ça (desse jeito). Diferente de um livro de dieta, este não vai exigir que você se prenda a gráficos e pule textos: você terá que lê-lo. Aprender a comer direito é como aprender uma língua - nada funciona melhor do que como uma boa imersão.

Que a história comece.”

[extraído do livro “As mulheres franceses não engordam”, pp. XV, XVI]




“(...) O Dr. Milagre também era apreciador de boa comida. Deu-me muitas receitas, mas nenhuma mais importante do que aquela para o primeiro e único fim de semana "difícil". A luz dos acontecimentos, não foi tão difícil assim, por causa de sua "Sopa Mágica de Alho-Poró", um truque usado por muitas mulheres da região há gerações. Ele já havia receitado para minha avó e para minha mãe em determinados momentos. Alho-poró é um diurético suave, baixo em calorias e altamente nutritivo. Quarenta e oito horas de alho-poró dão resultado imediato para o pulo da transformação. Para mim, foi o começo de um compromisso de vida inteira para com o bem-estar, assim como o início de minha apreciação, meu amor ao alho-poró, sobre o qual tenho muito mais a dizer. É um truque que ainda uso de tempos em tempos: tente na primeira semana, seguindo seu próprio inventário de comida.

SOPA MÁGICA DE ALHO-PORÓ (CALDO)
1 porção para o fim de semana

INGREDIENTES
2 quilos de alho-poró

1. Limpe o alho-poró e lave-o bem para tirar a areia e a terra. Corte fora as partes verde-escuras, deixando as partes brancas e as verde-claras. Reserve as verdes extras para o estoque da sopa.

2. Coloque o alho-poró em uma panela grande e cubra com água. Deixe ferver. Reduza o fogo e cozinhe sem tampar por 20 a 30 minutos. Retire o líquido e reserve. Coloque o alho-poró em uma vasilha.

O suco deve ser bebido (aquecido ou à temperatura ambiente) a cada 2 ou 3 horas, 1 xícara de cada vez.

Nas refeições ou sempre que sentir fome, coma o próprio alho-poró, ½ xícara de cada vez. Tempere com algumas gotas de azeite de oliva extra virgem e com suco de limão. Salpique um pouco de sal e pimenta. Se desejar, coloque salsa picada.

Esta será sua alimentação nos dois dias até o jantar de domingo, quando pode comer um pequeno pedaço de carne ou peixe (110g - não perca ainda esta medida!), com dois legumes cozidos com um pouco de manteiga ou azeite, e um pedaço de alguma fruta.

Pobre daquelas que não gostam do doce paladar e da textura delicada do alho-poró. No devido tempo, você provavelmente vai gostar. Caso contrário, poderá seguir o exemplo de minha prima em Aix-enProvence; depois do nascimento de dois filhos, precisava perder alguns quilos, mas não gostava de alho-poró. Uma vizinha sugeriu que escondesse o alho-poró entre outros ingredientes saborosos e saudáveis. Esta versão provençal é conhecida como Soupe Mimosa (Sopa Mimosa).


SOPA MIMOSA
1 porção para o fim de semana

1. Limpe e corte todos os legumes em pedaços e coloque-os em uma panela, exceto a couve-flor e a salsa. Cubra com água, ferva e cozinhe sem tampa por 40 minutos. Adicione a couve-flor e cozinhe por mais 15 minutos.
2. Passe tudo por uma peneira.
3. Sirva a sopa em uma tigela e adicione salsa e pedaços dos ovos cozidos.

INGREDIENTES
1 alface
250g de cenouras
250g de aipo
250g de nabo
250g de couve-flor
½ quilo de alho-poró
½ xícara de salsa
2 ovos cozidos, picados

Tome uma xícara (na temperatura ambiente ou aquecida) a cada três horas, durante todo o dia de sábado e domingo até o jantar de domingo, quando poderá comer um pequeno pedaço de carne ou peixe (110g), dois legumes cozidos em uma pequena porção de manteiga ou azeite de oliva, e um pedaço de alguma fruta. Embora, de certa maneira, esta sopa tenha um pouco menos de magia e seja menos líquida do que a sopa de alho-poró, é uma alternativa saborosa e eficaz.

Ambas as versões são tão boas e uma tal aventura para a maioria dos paladares que você vai ter dificuldade em considerá-las como rações de prisão. Principalmente se esses sabores forem novos para você, coloque as impressões de sabor e fragrância na próxima página em branco do caderno de notas no qual anotou suas três últimas semanas. Este exercício vai intensificar seus prazeres e você pode querer manter um diário regular de suas experiências gastronômicas, incluindo algumas notas sobre vinho (como sérios enófilos fazem).”


[extraído do livro “As mulheres franceses não engordam”, pp. 10, 11, 12]


“(...) Ficamos confusos com todos os conselhos alimentares que recebemos – primeiro, são as dietas com baixo teor de carboidratos, depois os alimentos sem gordura, além dos suplementos de vitaminas. Dou palestras ao redor do país e o principal problema que as pessoas me relatam é exatamente a confusão sobre a alimentação correta a ser adotada. Lembra-se de quando se considerava a margarina como protetora do coração? Hoje, a margarina tomou-se a grande vilã. As nozes costumavam fazer mal por causa das gorduras que continham; hoje fazem bem exatamente por causa das mesmas gorduras. Os ovos matavam por causa do colesterol, mas hoje até isso foi desmentido.

Enquanto isso, embora todos saibam que a alimentação ao estilo francês emagrece, faz bem ao coração e à longevidade, continuamos nos referindo ao "paradoxo francês". Por quê? Obviamente, os franceses não consideram seus hábitos alimentares um paradoxo, mas, quando examinamos os dados mais atuais da ciência da nutrição, o mistério se resolve também para nós.

Os franceses não comem alimentos processados. Um fluxo constante de resultados de pesquisas reforça a conclusão de que nosso organismo foi desenvolvido para processar alimentos de verdade, não alimentos sintéticos. E isso faz sentido se considerarmos as descobertas de que gorduras artificiais como olestra necessitam de um rótulo de advertência do FDA, e carboidratos artificiais como aspartame estão associados a inúmeros problemas de saúde. Não existem rótulos de advertência no tomate, na cenoura ou na cebola.

Os franceses não evitam gorduras. Recentemente, descobrimos que os franceses estavam certos o tempo todo. Sempre comeram o que hoje chamamos de "gorduras benéficas", como as encontradas na azeitona, nas nozes e no salmão. Até mesmo seu consumo diário de iogurtes e queijos vem recebendo o apoio de pesquisas realizadas por cientistas, que mostram a capacidade desses alimentos de promover o emagrecimento.

Os franceses não evitam carboidratos. Seu consumo de carboidratos normalmente vem de produtos como baguete, cuscuz, arroz e batata. E, como estamos descobrindo em conseqüência da revolução da dieta do Dr. Atkins, a eliminação dos carboidratos da dieta pode, de fato, produzir emagrecimento no curto prazo. No entanto, sem eles, o desequilíbrio nutricional faz com que os cinco quilos perdidos se transformem em dez quilos readquiridos.

Os franceses não tomam suplementos. A cultura de extrair as vitaminas das frutas e hortaliças, e não de suplementos, também está de acordo com listas de estudos que mostram que as formas sintetizadas mais comuns das vitaminas A, E e C em pílulas podem fazer mais mal do que bem.

Os franceses não se abstêm do vinho no almoço e no jantar. Já sabemos há vinte anos, mas só recentemente aceitamos, que o vinho faz bem à saúde. Os franceses gostam de beber vinho às refeições diariamente; o vinho tem a capacidade de proteger o coração, reduzindo os níveis do colesterol ruim e elevando o bom colesterol, por meio de substâncias conhecidas como polifenóis e resveratróis, que possuem propriedades protetoras.

Os franceses não comem com pressa. Existe um hábito mais tipicamente francês do que fazer uma refeição com muita calma? Nossa fisiologia responde a uma atmosfera relaxada, levando o sangue para as vísceras, a fim de proporcionar condições ideais de digestão. E, como as pessoas comem devagar, o cérebro recebe a mensagem neuro-hormonal de saciedade; assim, você não come demais.

Os hábitos alimentares culturais franceses envolvem muitos aspectos. Por exemplo, não existem planos alimentares franceses, produtos dietéticos que devem ser consumidos em intervalos específicos, anúncios que prometem emagrecimento imediato, obsessão cultural com um grupo alimentar como sendo a "ameaça do momento" (eles comem gorduras, carboidratos, açúcar e proteínas). Essa abordagem holística é ainda mais poderosa por não se tratar apenas de teoria. Vem de um presente da história e das tradições francesas, com centenas de séculos de idade. É apenas o que eles fazem.

Quando examinamos o estilo alimentar francês, descobrimos que o paradoxo francês não é tão paradoxal assim. A verdadeira ironia está no fato de que não experimentamos a solução mais simples e mais óbvia para os problemas de peso e de saúde – a aplicação da abordagem francesa como modelo em nossas vidas. Eles são magros. Eles são saudáveis.”

[extraído do livro “A não dieta dos franceses”, pp. 4, 5]

*Pra Mari, minha amiga "não francesa" e magra, que me indicou o Seu Pilates.



Links livros:
http://200.221.3.73/cultura/arte_lc_028.shtml

http://gula.ig.com.br/entrevista/152.shtml
http://www.terra.com.br/istoe/1851/medicina/1851_boa_forma_a_francesa_bien_sur.htm
http://veja.abril.com.br/especiais/como_construir_futuro/p_144.html

http://www.bolsademulher.com/corpo/materia/dieta_francesa/6192/1

http://www.bolsademulher.com/corpo/materia/dieta_francesa/6192/2

http://oglobo.globo.com/saude/vivermelhor/mat/2007/01/02/287258345.asp

http://masci.blog.terra.com.br/a_nao_dieta_dos_franceses

http://www.livrosdesaude.com.br/livros_template.asp?Codigo_Produto=61091#


Links Pilates:
http://www1.uol.com.br/cyberdiet/colunas/060213_fit_x_pilates3.htm
http://www1.uol.com.br/cyberdiet/colunas/040412_fit_pilates.htm
http://www.hidroginastica.com.br/pilates.htm



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