quinta-feira, março 08, 2007

 

Vida & ficção


Primeiro o fato, depois o livro e, a seguir, o filme, baseado nos dois anteriores... Assim fiquei conhecendo a história de Ramón Sampedro, nascido numa província de La Coruña, Espanha.

.
.

.
O livro: “Cartas do Inferno” [escrito por Ramón Sampedro, tradução de Lea P. Zylberlicht, Editora Planeta, 2004, 278 páginas].









O filme: “Mar adentro” (Espanha, 2004, direção de Alejandro Amenábar, com o ótimo ator espanhol, Javier Barden, como protagonista – imperdível!).



.
.
Acho que as transcrições do livro, assim como os links (relacionados ao personagem real, seu livro e o filme), falarão por mim:


Biografia

Ramón Sampedro nasceu em 5 de janeiro de 1943 em Xuño, uma pequena aldeia da província de La Coruña. Quando tinha 22 anos embarcou como mecânico em um navio mercante norueguês, e com ele percorreu quarenta e nove portos do mundo inteiro. Essa experiência permaneceu como uma de suas melhores recordações. Em 23 de agosto de 1968 pulou na água de cima de um rochedo. A maré havia baixado e o choque da cabeça contra a areia produziu uma fratura na sétima vértebra cervical. Durante trinta anos viveu sua tetraplegia sonhando com a liberdade através da morte. Sua demanda jurídica não foi aceita no Tribunal de Direitos Humanos de Estrasburgo. Pelos meios de comunicação reivindicou seu direito a uma morte digna e em janeiro de 1998, em segredo e provavelmente assistido por uma mão amiga, conseguiu seu intento.

Prólogo de Alejandro Amenábar

Este livro não é, no sentido estrito, a base literária ou dramática do que depois seria o filme Mar Adentro. Em realidade, é muito mais que isso. Ele é o complemento intelectual e poético, o pilar filosófico que deu fundamento e sentido a todo o nosso trabalho posterior. Depois de mais de vinte anos de reflexão, leituras, conversas e petições, Ramón decidiu publicar estas Cartas com um objetivo muito claro: fazer valer sua individualidade e sua liberdade.

No entanto, ao mesmo tempo, Ramón consegue nos situar frente ao abismo da morte, nos colocar junto a essa linha divisória, a que separa este mundo do "outro" talvez, o nada. E nos diz: "Deixe-me cruzar a linha, deixe-me pular". Eu, pessoalmente, nunca me aproximei muito do abismo – talvez, aos doze anos, quando caí em uma pequena queda-d'água e, como Ramón, quase quebrei o pescoço –, mas acredito que, por pouco que caminhemos pelo mundo, temos de nos deparar, mais cedo ou mais tarde, com isso que, inconscientemente, acabamos afastando de nossos pensamentos. Ramón nos ajuda e, mais ainda, nos incita a refletir sobre isso, sem medo, porque para ele a morte é apenas uma parte do processo natural da vida. Nesse aspecto, sua prosa é contundente. Outras vezes, quando descreve sua própria situação, ela se torna amarga, dolorosa. Mas sempre permanece em tudo um fundo escrupulosamente racional, a razão de sua consciência, um empenho para debater e argumentar sem deixar fios soltos. E para os que ainda assim pensam que o seu ponto de vista é injustificável, Ramón exige, em última instância, a não intromissão, farto de sofrer o preconceito, a compaixão, o paternalismo ou, de maneira direta, o descrédito.

Ao lado dessa racionalidade, os poemas de Ramón revelam sua enorme sensibilidade, submergindo-nos em um mundo de imagens – o mar, a janela –, de sonhos, sentimentos... Encontra-se nestas páginas, em estado puro, o universo que inspirou, exceto o título, muitas das seqüências de Mar Adentro. Ainda que esse aspecto, o metafórico e o lírico, tenha sido fundamental para a realização do filme, o certo é que não teríamos nos decidido se não tivéssemos conhecido o Ramón na intimidade, aquele lembrado por seus próximos como sempre sorridente, um constante brincalhão, sedutor nato... No fim das contas, embora isso pareça contraditório, uma pessoa profundamente dotada de grande impulso de vida. Não tive o privilégio de encontrá-lo, mas, de alguma maneira, sinto que algo dele já forma parte de mim.

Agradeço muito sinceramente à família Sampedro por nos abrir suas portas e manter vivo o legado de Ramón. Durante muitos anos eles foram um exemplo de dedicação e de amor desinteressado.

Em troca, gosto de pensar que Ramón os presenteou com este livro.

ALEJANDRO AMENABAR



DEDICATÓRIA

Com todo o meu afeto e gratidão, dedico este livro a Manuela, minha cunhada. Ela é verdadeiramente uma mestra exemplar em humanidade. Em seu coração não há lugar para a intolerância e a mesquinhez porque ela é a personificação da generosidade e do respeito.

Á memória de minha mãe, que não teve a oportunidade de se fazer de deusa.

Ao meu pai, que junto com meu irmão e sobrinhos tornaram mais suportáveis os rigores do inferno.

À lembrança de James Haig, um tetraplégico inglês, que, depois de muitas e humilhantes súplicas, teve que se queimar vivo porque a justiça lhe negou o direito e a liberdade para morrer de um modo mais humano.

À minha querida amiga e escritora Laura Palmés, sem cujos conselhos persuasivos e ajuda este livro nunca teria sido escrito.

RAMON SAMPEDRO


Prólogo para "Cartas do Inferno"

No dia 23 de agosto de 1968 fraturei o pescoço ao mergulhar em uma praia e bater com a cabeça na areia. Desde esse dia sou uma cabeça viva e um corpo morto. Poderia dizer que sou o espírito falante de um morto.

Se eu fosse um animal, teria recebido um tratamento de acordo com os sentimentos humanos mais nobres. Teriam posto fim à minha vida porque lhes pareceria desumano deixar-me nesse estado pelo resto da vida. Às vezes é um azar ser um macaco degenerado!

Dizem os especialistas em medicina, o que é confirmado por políticos, juízes, juristas e demais castas que se associam a essas para estabelecer o estado desumano do direito e do bem-estar – seria mais coerente chamá-la de desgraça e do mal-estar –, que um tetraplégico é um doente crônico.

Se a linguagem fosse utilizada com precisão, seria menos enganoso afirmar que um tetraplégico é um morto crônico.

Não gosto de fazer o papel de morto crônico nesta comédia do viver para sobreviver em função do burlesco da linguagem técnica!

Considero o tetraplégico como um morto crônico que reside no inferno. Ali – para evitar a loucura – há os que se entretêm pintando, rezando, lendo, respirando ou fazendo algo pelos demais. Há gostos para tudo! Eu me dediquei a escrever cartas. Cartas do inferno.

Que ninguém se esforce por descobrir uma linha metódica nestes escritos. Todos são variações sobre um mesmo tema. Uma única idéia. Uma só paixão.

O que sobretudo me interessa é a liberdade do ser humano e tudo quanto gira ao redor da vida, do amor e da morte. Assim como as três funções que psicologicamente determinam nossa existência, as crenças, o pensamento e a conduta: o prazer, a dor e o temor.

No dia em que a ciência concluiu que era impossível curar-me da paralisia, pensei, com o desespero do animal apanhado na armadilha infernal de algum cruel caçador, na bondade da morte. A caridade, é claro, começa por si mesmo! Mas parece que esse princípio moral só é compreendido pelos políticos, juízes, religiosos, médicos, quando se trata de aumentar seus salários para cobrar o bem que fazem pela humanidade.

No início, você só pensa em se libertar. Há somente duas alternativas: transformar-se em um ser absurdo, ser o que você não quer ser, um habitante do inferno; ou ser coerente com a utopia da vida. Libertar-se da dor, buscar o prazer através da morte. Decidi-me pela libertação, não como algo negativo, mas como positivo: procurar algo melhor.

A primeira coisa que meus pais disseram quando lhes falei que queria morrer foi que me preferiam assim, não queriam perder-me para sempre. Não há maneira de escapar, as pessoas não querem tocar nesse assunto. A lei proíbe. E o "eu não sou capaz de lhe prestar a ajuda que me pede!" prevalece como a vontade de uma lei invisível que cerceia a vontade pessoal.

Essa foi a primeira vez que me deparei com o muro impenetrável do paternalismo bem-intencionado. Não quero dizer que meus pais, familiares e amigos não sintam o que afirmam, o que quero dizer é que não têm o direito de querer que prevaleça o desejo e a vontade deles sobre os meus.

No início de 1990, consigo a colaboração para uma eutanásia discreta. Mas, diante da evidência, manifesta-se o autoritarismo. Então, o que ouço já não é mais: "eu não posso!", "não peça para mim!", mas "eu não quero!", "eu proíbo!".

Recorri, então, aos juízes e sucedeu o seguinte: "eu não sou competente" ou sua petição não foi aceita por falta de formulação adequada. Por fim, se expressou o insulto dos dogmáticos fundamentalistas da crença cega no sofrimento purificador: Covarde! Se você quer morrer, morra, mas deixe-nos em paz e não ofenda a Deus!

Parece que jamais lhes ocorreu pensar que eles, e não eu, são o fracasso da razão.

Em abril de 1993 decidi exigir a eutanásia como um direito pessoal. Nunca havia imaginado que houvesse tanto terror e superstições ocultas. Foi como se todos os *néscios da Terra tivessem conspirado para me fazer desistir de seguir esse caminho. De acordo com eles, eu estava errado.

Não tenho outro interesse senão o de mostrar que a intolerância manifestada pelo Estado e pela religião é como uma idéia fixa. Eles são os inimigos naturais da vida e os responsáveis pela destruição do homem como indivíduo.

Um dos colaboradores disse: esse é o nosso fracasso, não soubemos lhe dar um motivo para viver. Algumas pessoas se sentem ofendidas porque você recusa o oferecimento da proteção de seu deus. Outras, porque você despreza suas ciências paliativas e inúteis.

Depois de ter escutado coisas tão absurdas como as que se seguem, só nos resta escrever Cartas do inferno.

Alguém pergunta, você quer sarar?

Claro que sim, respondo.

Então peça a Deus, se o fizer de verdade vai sarar.

Mas, se Deus já sabe que quero sarar de verdade, por que tenho que pedir?

Alguém diz: eu o aprecio muito. Você acredita em mim?

Sim, mas o que importa se você me aprecia muito ou muitíssimo, e eu também o aprecie, se isso não muda a realidade?

Você desistiu de viver. Isso é negativo, destrutivo, assegura o sabichão.

Essa maneira de pensar entre dominante e serviçal é tão ridícula que só um ser absolutamente degenerado pode achar natural esse comportamento humilhante.

Se não fosse por seus defeitos, você não seria o mesmo!

Será que você seria como é se não fosse tetraplégico?

Você pensaria sobre as mesmas coisas?

É claro que não, o indivíduo sempre é ele mais sua circunstância. Mas se você necessita da visão, ou da vivência do horror para se elevar e crescer espiritualmente, humanizar-se e ser ética e moralmente superior, olhe para si mesmo. Pode ser que você seja incapaz de amar, mas não justifique por causa disso o horror dos demais. Para entender a dor não é necessário vivê-la!

Só um carrapato diria que o dever de seu cachorro é o de sofrer!

O auto-engano do ser humano diante da morte levou-o a uma tal atitude irracional que ele a nega racionalmente. O sentido da morte não lhe é ensinado. E a estratégia dominante dos professores se transformou em uma forma de cultura parasitária.

Pode ser que alguém não queira ouvir falar da morte, mas julgar que a pessoa, ou as pessoas, que pedem que lhes seja permitido decidir o final de suas vidas, o que estão pedindo em realidade é que lhes demonstrem carinho, só revela que esse alguém é mestre do disfarce ou que está enganando a si mesmo. O que eticamente poderia ser feito seria conceder a cada pessoa a liberdade que pede. Ou seja, peça e lhe será dado. Se ela realiza o que diz desejar, não há auto-engano, e se não o fizer, sim. Essa seria a única forma de não manipular a verdade. Uma forma de não criar infernos onde a única liberdade que resta é a de escrever cartas, que podem ser dramáticas e aterrorizantes ou otimistas e de auto-engano. E assim o condenado se distrai pensando que no inferno, apesar de tudo, não se passa tão mal.

RAMON SAMPEDRO CAMEÁN

__________

*néscio [Do lat. nesciu]
Adj. (adjetivo)
1. Que não sabe; ignorante, estúpido.
2. Inepto, incapaz.
3. Insensato, absurdo: "E assim como seria pensamento néscio, e esperança vã, querer um condenado no Inferno ter glória, ou um Bem-Aventurado no Céu ter pena, assim o é querer um peregrino no mundo ter satisfação e descanso." (P.e Manuel Bernardes, Luz e Calor, pp. 253-254.)
S. m. (substantivo masculino)
4. Indivíduo néscio.


E como falo de amor se estou morto?

E como falo de amor se estou morto?
Se nós, os mortos, não temos paixões,
nem dos humanos os sentimentos afetuosos,
dos vivos somos apenas o espanto.

Tudo é incoerência e contradição
para um morto entre os mortais.
Nem a Lua, nem a flor, nem a fêmea o excitam,
porque não tem carne para se reproduzir.

Há coisa mais absurda do que escutar um cadáver
falar apaixonadamente como um humano,
se ele não pode sentir nem o calor nem o frio
nem o prazer nem a dor ou o pranto?

É horrível ser um morto entre os humanos.
Ser o boneco com o qual representam uma paródia absurda
os psicopatas esquizofrênicos vivos
que desfrutam a visão de um cadáver putrefato.

Besuntado com excrementos, babas e loucura
aquele que com asco e fúria, impertinentes, seguem limpando.
E roga libertar-se, o cadáver, de entre os vivos loucos,
mas estes não entendem os silenciosos gritos dos mortos.

E com patético assanhamento continuam animando:
conta, morto, a história do que estás passando;
pareces ser um de nós, os vivos,
aparentas ainda algo de ser humano.

Em vão lhes digo que não!, que estou morto!,
que já não posso falar como eles
porque me parece absurdo falar como os humanos.
E não me deixam ser nem morto nem vivo
estes loucos e alucinados perturbados.

Os sonhos

Mar adentro, mar adentro,
e na leveza do fundo,
onde se cumprem os sonhos,
juntam-se duas vontades
para cumprir um desejo.

Um beijo incendeia a vida
com um relâmpago e um trovão,
e em uma metamorfose
meu corpo já não era meu corpo;
era como penetrar no centro do universo:

o abraço mais pueril,
e o mais puro dos beijos,
até sermos reduzidos
em um único desejo:

Seu olhar e meu olhar
como um eco repetindo, sem palavras:
mais adentro, mais adentro,
até o mais além do todo
pelo sangue e pelos ossos.

Mas sempre acordo
e sempre quero estar morto
para seguir com minha boca
enredada em seus cabelos.

A gaivota

Este pobre marinheiro um tanto ingênuo e idiota
que olha uma gaivota e embarca com o vento

para percorrer o mar.

E embora não tenha corpo,
põe a voar a alma
atada ao pensamento,
que é sua forma de amar e caminhar. (...)


A metamorfose

Não posso conceder-te o que não é meu,
já que hoje é todo teu o que foi meu ontem.
Lembra que disseste que estavas só e sentias frio.
Esqueceste, talvez, que naquela noite deixei, para cobrir-te,
todo o meu ser.

Em cada entrega há uma metamorfose
e o que se entrega jamais se pode voltar a possuir.
É certo que às vezes o ser nos é devolvido depois de amado.
Mas embora pareça que é sempre o mesmo,
acaba sempre de renascer.

Como não quero que me devolvas esse meu ser que amaste,
faze-me um favor, se puderes.

Disseste que gostavas de senti-lo próximo.
Se não te importa, gostaria que ficasses com ele.
Sempre teve como ideal acariciar
eternamente o coração de uma mulher.

Por que morrer?

Por que morrer?
Porque o sonho se tornou pesadelo.
Porque a razão humana é mais hipocrisia e menos verdade.
E a liberdade é apenas, para os ingênuos, uma inalcançável utopia.

Morrer é um ato humano de liberdade suprema.
É ganhar de Deus a última partida.
É passar, democraticamente, uma rasteira na dor por amor à vida.

É ir atrás de um novo céu onde, talvez, a glória nos sorria,
porque este que nos abriga tem uma eterna cara de cão raivoso
que nos humilha, latido a latido, segundo a segundo,
cada vez com maior fúria, deixando-nos um pouco mais escarnecidos.

Morrer é arriscar com uma só carta toda nossa vida.
É apostar tudo no desejo de encontrar um luzeiro que nos ilumine um novo caminho.

E se perdemos a aposta, só perderemos a desesperança e a dor infinita.
Só perderemos o pranto que, lágrima após lágrima, nos inunda a alma.

Como o náufrago que, depois de afundado o barco,
só espera, com a resignação do vencido, esgotar a força da última braçada
para entregar-se, como o amante submisso, às ternas carícias de seu mar amado;
a seu beijo salgado e arrulhos de brisas.

E se ganhamos a aposta da morte, se a sorte esquiva uma única vez nos olha,
ganharemos o céu, porque no inferno já passamos toda nossa vida.

Por que morrer?
Porque toda viagem tem sua hora de partida. E todo aquele que parte de viagem
tem o privilégio, e o direito, de escolher o melhor dia de saída.

Por que morrer?
Porque às vezes a viagem sem retorno é o melhor caminho
que a razão pode nos ensinar, por amor e respeito à vida.
Para que a vida tenha uma morte digna.

Ao meu filho

Perdoa-me, filho, por não teres nascido.
Não foi culpa minha deixar-te para trás.
Beijei as flores que encontrei em meu caminho.
A culpa foi do verbo pecar.

Eu te vi sorrindo naqueles olhos
que me contemplavam assombrados e inquietos,
mas sempre entre nossos desejos se interpôs
o tabu... pecado. Não tive culpa,
foram as rosas que tiveram medo.
Talvez para proteger-te, inconscientemente, do inferno.

Perdoa-me por não ter podido brincar contigo.
Sinto muito que não me deixem voltar atrás.
Não sei se terás nascido depois de eu passar.
Não importa. Lembra sempre que continuo a te querer.

Dá um beijo em tua mãe de minha parte.
E não me guardes rancor, odiar não é bom.

Um amigo

Um amigo
que sinta como eu o mesmo latejo;
um amigo
cujo coração seja o meu, e o meu o seu;
um amigo
cuja dor seja a minha dor;
um amigo
para pôr fim à dor infinita;
um amigo
que me empreste a mão para meu suicídio;
um amigo
que não acredite em deuses mas sim no amigo;
um amigo
que nos dê o golpe mortal quando estamos mortalmente feridos.
Esse amor existe, mas está proibido.

A alternativa da morte

A qualidade da vida consiste em uma conformidade prazerosa, uma percepção harmônica do corpo e da mente com o todo ao qual estão condicionados e sujeitos os sentimentos pessoais. Quando não é assim e sobrevivemos por simples temor à morte, a morte é a única alternativa racional para libertar a vida do sofrimento. Quando não há qualidade de vida, quando o caos é total, não há mais alternativa a não ser a desintegração da matéria para renascer.


Trechos de cartas:

(...) Porque há vida em minha cabeça, mas uma vida racional, creio e penso que a liberdade é a única coisa que dá sentido à vida. A liberdade é o anseio mais forte de todo ser que possui a capacidade de movimento. Pode-se renunciar a grande parte desse movimento e ainda sentir-se livre. E haverá quem se resigne a sobreviver sem nenhuma liberdade de movimento. Eu não. Não aceito a vida sem a mínima liberdade de movimento que dê a meu corpo a possibilidade de sobreviver por mim mesmo. Sem essa liberdade mínima não se pode sentir felicidade ou alegria.

Há animais que sem liberdade nem sequer se reproduzem. Outros morrem de tristeza e de melancolia se são privados de sua liberdade. Eu também sou um animal, mas que tem a capacidade de se perguntar sobre qual é o sentido da vida, e sempre chego à mesma resposta: o sentido da vida é a liberdade de ser livre para viver, amar e morrer, mas livre, livre, livre...

Mas minha liberdade é a liberdade de todo ser vivente, da vida toda. Não se trata somente do meu desejo egoísta e cobiçoso de gostar de mim mesmo, ou de meus familiares e amigos, mas de gostar de todos os seres humanos que foram meus pais e mães, e de todos os seres humanos que são e serão nossos filhos, e de todos os seres viventes que são e serão nossos irmãos. Que grande paradoxo, não?, a quantos matarão até sua extinção.

Deixando de lado a origem e o princípio dessa espécie, minha vida pertence a essa espécie, mas antes pertence a mim como indivíduo celular desse grupo. O grupo dominante dessa espécie pode negar-me a liberdade de minha morte voluntária, se com o meu ato ponho em perigo a própria espécie, ou a vida e a liberdade de alguns de seus indivíduos. Mas eu nunca ofendo nenhum desses dois princípios com o ato de terminar minha vida.

Você compreende por que me é negado esse ato de liberdade, de respeito e de amor por mim mesmo, que não é, no fim das contas, mais do que um gesto de amor e respeito à própria vida? A resposta é óbvia: para manter o princípio de autoridade, não por amor e respeito à vida, à espécie ou ao indivíduo.

Desse modo nunca me respeitaram. Meu raciocínio e minha consciência passarão da vida à morte sendo escravos de outras consciências. Terei sofrido a escravidão mais atroz e imoral só porque isso convinha politicamente a meus amos. Em um dado momento eles aboliram a escravidão dos corpos, mas, ao que parece, têm muito mais medo da liberdade da consciência.

O conceito constitucional da dignidade da pessoa não pode ater-se a um simples direito de que a pessoa não pode ser torturada, humilhada, pelo poder e pela autoridade do Estado. Teríamos que entender que a pessoa tem o direito de não ser humilhada pela tortura do sofrimento inútil, irremediável e atroz. (...)

Enquanto uma pessoa pode cuidar de si mesma, seja em cadeira de rodas, com muletas ou bengala, sempre que essa pessoa se acreditar livre, sua vida terá sentido. E quando esse sentido acabar, de acordo com a razão humana, então será a hora de morrer. "Há um tempo para tudo sob o sol."

Sim, pensei muitas, muitas vezes se valeu a pena sobreviver todos esses anos. Não, não valeu para nada o meu sofrimento, nem tampouco a dor que meu sofrimento causou. Se eu tivesse tido a liberdade de morrer a tempo, a dor teria tido a medida do amor humano. Teria deixado meu olhar em outro olhar, meu sorriso em outro sorriso, toda minha lembrança de agradecimento para quem houvesse me ajudado, por amor e respeito, a me despojar de meu corpo. Teria deixado, como o sol deixa, quando submerge no mar ao anoitecer, pintado no céu o mais belo e impressionante quadro: um gesto sereno como uma carícia de despedida antes de ir dormir. Como uma pupila que, lentamente, vai cerrando a pálpebra imensa do céu pintado de vermelho, e à medida que se eleva vai se esfumaçando em ouro, ocre e azul, até unir-se no alto com o sonho escuro da noite, que a empurra para baixo, muito pouco a pouco, com tanta ternura que mais parece que alguém invisível o está embalando para que adormeça.

Morrer é só isso. Deitar para dormir quando se está muito cansado, sereno e tranqüilo, sem medo do sono, sem tristeza nem rancor mesquinho, deixando no mundo uma recordação boa de nós mesmos, em tudo o que amamos, como o sol deixou sua mais bela despedida gravada em minha lembrança. Mas para isso devemos ser tão livres, tão livres, tão bons, tão bons, que talvez seria desejar que os humanos fossem demasiado humanos.

Pessoalmente, penso que para tolerar a eutanásia, ou o direito para morrer com dignidade, é preciso amar de verdade as pessoas e a vida, e ter um profundo sentido de bondade. (...)

(...) gostaria de lhe dizer – parodiando Neruda – que a ternura cai na alma como o orvalho na relva, mas não pode porque isso tampouco basta. (...)

(...) Não é desespero. É lógica racional. A idéia da morte nessas condições é mais do que um simples desejo de se separar da vida. É o desejo de terminar uma existência que não se ajusta dentro das leis de minha razão.

Não há beleza possível porque não resta esperança. E quando não resta beleza à vida, a morte nos é oferecida, a poesia do sonho que busca a razão. Não é preciso dar mais voltas. O ser humano não aceita sua mortalidade porque a lei universal do medo da morte não lhe permite. Uma pessoa pode sobreviver com a ajuda de seus semelhantes. Pode e deve ser assim, se ela pede essa ajuda. Mas, quando uma pessoa não pode sobreviver por seus próprios meios e recorre aos seus próximos, estes lhe devem prestar a ajuda que ela solicita, e não a que eles querem lhe dar de acordo com seus preconceitos morais. (...)

Minha incapacidade física me causa um sofrimento do qual não posso me libertar. Isso provoca em mim uma humilhação que meu conceito de dignidade não admite. Quem me causa essa humilhação? A vida, a circunstância. Não é deus, nem sua vontade, porque não creio nela. Mas em um relatório que o Ministério de Assuntos Sociais pediu a não sei quais conselheiros ou autoridades sobre o tema da eutanásia, o porta-voz desse conselho afirmou que não se pode saber quando um sofrimento é ou não insuportável. Como, então, podem julgar? (...)


Hoje se passaram vinte e sete anos

Hoje, vinte e sete anos depois, o inferno segue sendo minha morada. Tenho ao meu redor seres que me amam. Eles cuidam de mim com paciência, respeito e carinho, mas não posso tocá-los, nem lhes agradecer com uma carícia de minha mão. Sigo no inferno porque ouço a chuva, mas sei que não pode acariciar meu corpo, como antes fazia. Sigo no inferno porque não posso expressar o amor a uma mulher como meu cérebro deseja. Ela diz que com a minha boca lhe basta. Que a minha forma de ser é suficiente para que se sinta plena e satisfeita. No entanto, intuo que sente saudade de meu sexo, a forma que tinha, minha maneira de interpretá-lo e vivê-lo com outras mulheres, que ela diz sempre imaginar. Ela me assegura que minha ternura lhe basta para se sentir mulher. Mas para mim, não. Nós nos sentimos como mulheres e homens através de nossos corpos. Ela não é capaz de entender o que significa não sentir nada sexualmente. Sim, imagina, mas não sabe o que nada significa com respeito à sensibilidade corporal.

Vi e senti as chamas do inferno quando Rosita, a menor de minhas queridas sobrinhas – tinha então três meses –, foi deixada sozinha comigo. Manuela, minha cunhada, a pessoa que torna mais suportável essa vida que não aceito viver, me disse que se a nenê chorasse a única coisa que deveria fazer era falar um pouco com ela. A nenê começou a chorar e eu lhe falava, lhe falava e, quanto mais coisas lhe dizia, mais ela chorava. Depois começou a tossir; eu percebi como ela engasgava, e, diante de minha impossibilidade de acalmá-la com minhas palavras, achei mais prudente me calar. Fiquei aterrorizado com a possibilidade de que se asfixiasse, e eu deitado em minha cama sem poder fazer nada. Sempre lembrarei daquele dia como o auge da impotência. Como naquela tarde em que minha mãe – morreu de pena pelo que me acontecera, mas os médicos lhe diagnosticaram um câncer – caiu no meio do corredor. Também estávamos sozinhos. Ela havia desmaiado e eu, a dois passos dela, não podia ajudá-la. Pensei em sua morte e se repetiu a imagem de minha cabeça unida ao peso de um corpo morto, só ela funcionava.

Então tive de novo a visão rápida do passado. Lembrei do riso de minha mãe, sua ternura, a voz clara e profunda que falava comigo, quando pequeno, e os olhos, seus olhos que me perguntavam mil coisas que sua voz não se decidia a formular, quando eu voltava de viagem. E lembrei daquele movimento tão triste de seus lábios quando me disse, ao lado de meu pai: "Nós o preferimos assim. Não queremos vê-lo morto". E eu sei, porque me contaram depois que ela se foi, que, após o sorriso que esboçava em meu quarto, ela passava o dia chorando por todos os cantos da casa. "Talvez naquela tarde também tenha chorado" – lembro de ter pensado nisso naquele dia, enquanto ela jazia inerte no solo. E nunca pude saber. Quando recuperou consciência não perguntei, e ela, como sempre, selou seus lábios com o silêncio. Em poucos dias foi embora do inferno que suportou durante doze anos.

Evoco tantas coisas desses vinte e sete anos. Evoco tantas situações desde a imobilidade, que mil e uma vezes perguntarei, gritarei se for necessário: por que me foi negada a liberdade de morrer a tempo? Por que fui condenado a essa morte em vida que é olhar o céu, da cama, olhar o mar, da cama, ver os seres humanos, da cama, e sentir que para mim terminou a possibilidade de demonstrar amor? Eu, que tanto havia amado as mulheres, tive que renunciar a esse amor faz mais vinte e sete anos. Intuía que era a forma de sofrer menos – e ainda continuo a acreditar –; vinte e seis anos depois voltei a experimentar a doçura de uns lábios. Já havia quase esquecido esse carinho. Voltou com os beijos o amor da mão de uma mulher a quem eu adoro, mas também regressou o inferno, porque também retornou o desejo de sentir meu corpo abraçando o seu, mas a impotência nem me permite acariciá-lo com a mão. Quando falamos da minha necessidade de morrer, percebo que se entristece, mas ela sabe que não pode me fazer mudar de idéia, ela entende meu sofrimento, e me diz: "Jamais discutiremos por que você pede a eutanásia". Sei que gostaria que eu lhe dissesse: "Desde que nos amamos já não quero morrer". Mas não espera por isso, tem gravada em sua mente uma frase minha na qual dizia que só uma pessoa egoísta poderia pedir que eu voltasse atrás. Em lugar disso me escuta com um sorriso irônico quando lhe digo: "Depois de morto virei até sua cama e tocarei todo o seu corpo e poderemos nos possuir um ao outro."

Uma vez me disse: "Nunca ouvi ninguém contar que um morto voltou para fazer amor". Eu rio, mas penso muito sério, muito sério, desde o mais profundo da matéria pura, que o mesmo sucede a um tetraplégico, jamais nenhum voltou a sentir seu corpo entrelaçado ao de uma mulher exceto em sonhos. Ela ri, mas adivinha meu pensamento e responde muito séria, muito séria, com a coerência e a convicção do ser que guarda respeito, que o que eu peço é justo, e que já não posso passar mais tempo nesta vida, que me obrigaram a suportar ano após ano, num total de vinte e sete.

Vinte e sete anos passados, faço o balanço do caminho percorrido e não obtenho o cômputo da felicidade. Não fui pela vereda que queria ir. O tempo transcorreu contra a minha vontade. Fui um tormento para os seres queridos e fui, ao mesmo tempo, atormentado pela dor deles. Hoje sigo na mesma condição que vinte e sete anos atrás. Manoel, o homem que levantou minha cabeça da água para perguntar o que havia acontecido, modificou, com seu gesto, a mecânica universal do destino, que naquele instante estava se projetando para a libertação material do meu corpo. Quero sair do inferno, pois me pergunto: Que sentido tem a dor absurda contra a vontade do ser humano?

RAMON SAMPEDRO CAMEAN
Sieira 1.11.1995



Carta de despedida de Ramón Sampedro

Esta é a carta inédita que Ramón Sampedro escreveu para sua família pouco antes de morrer.
Reproduzimos o original em galego e sua tradução em português.
Pela primeira vez a família de Ramón entregou este documento comovedor para sua publicação (N. do ed.)



Querida família:

Quando vocês lerem esta carta espero estar dormindo para sempre.

Também espero que entendam que isso era o que eu queria havia muitos anos, e peço que façam o possível para que pareça uma morte natural.

A pessoa para quem pedi o favor de colocar as pílulas para dormir no frasco de sal de frutas foi uma criança que estava por aqui, mas não era consciente do que estava fazendo.

Se vocês lembram, havia um frasco quase vazio com um pouco de sal de frutas. Nele pedi que fossem colocadas as pílulas para dormir e as deixei ali por um certo tempo para que ninguém pudesse saber quem foi. Depois, tomá-las foi coisa fácil: ao último que ficou comigo para virar-me ou para ver TV, antes de ir dormir, pedi um copo com água com um pouco de sal de frutas, e esta pessoa me deu, sem saber, o conteúdo das pílulas para dormir.

Por isso lhes peço que não façam perguntas a ninguém. Chamem meu médico, Carlos Peón. Se ele confirmar que foi morte natural, destruam esta carta e nada mais, mas, se por qualquer motivo quiserem me fazer uma autópsia, então mostrem esta carta. Creio que serão suficientemente honrados para não colocá-los em um processo absurdo!

Repito que o melhor que vocês podem fazer é não dizer para ninguém que tomei uma dose excessiva de soníferos, porque a primeira coisa que as pessoas perguntarão é... quem os deu?

E por mais que vocês digam a verdade, e ainda que não haja nenhuma denúncia, as más línguas, as pessoas mesquinhas para as quais só interessam os mexericos e caluniar, vão dizer que foram vocês que me deram as pílulas, ou outras calúnias piores.

Eu gostaria que o fim do meu convívio com vocês fosse de outra maneira. Preferiria contar com a colaboração de vocês. Despedir-me de todos, como quem sai para uma longa viagem, ou como se fosse navegar, ou emigrar – já que a morte é isso, um sonho ou uma longa viagem.

Mas nunca confiei. Sempre tive medo de que, se pedisse para alguém que me fizesse o que fez a inocência de uma criança, isto acabasse – como acabam todos os segredos – sendo conhecido por todo mundo, ou seja, um segredo público.

Espero que quando se lembrarem de mim em uma conversa familiar, e se perguntarem os motivos, ou o porquê, nunca lhes ocorra que – talvez – isso aconteceu porque não me senti bem tratado. Não é isso!

Não é possível dar mais apoio, mais respeito, amor, carinho e calor humano solidário a ninguém. Quer dizer, não se pode fazer nada mais do que vocês fizeram por mim.

Mas o que não podemos dar a ninguém, por mais que queiramos, é a esperança. Essa só nasce no âmago de nós mesmos. Eu perdi a minha no dia em que me disseram que não havia mais nada a fazer para me curar.

A vida tem que ter um sentido. E tem sentido enquanto esperamos algo. Quase nunca – ou nunca – sabemos o quê, mas enquanto dispomos de um corpo sensível e vivo que nos possibilita desfrutar da sensação de liberdade que nos dá o movimento, sempre teremos essa sensação de poder ir de um horizonte a outro, em busca desse algo indefinido e maravilhoso que nos libertará da rotina e do cansaço monótono de lutar para viver de uma maneira normal.

Viver é como jogar na loteria. Se pensarmos bem, sabemos que as possibilidades de alcançar a felicidade que queremos são de uma em um milhão, dez ou vinte, mas continuamos a jogar porque há uma possibilidade. Resta um lugar para a esperança. Mas se ficamos sem o corpo, é como se ficássemos com a esperança insuficiente de poder ganhar um prêmio miserável, mas nunca um importante. Existem os que querem jogar dessa maneira, mas eu não. Eu quero jogar a loteria proibida, a da morte. Quem sabe além da vida haja outra loteria, e se jogarmos essa talvez possamos conseguir um dos prêmios importantes. Há uma esperança na incerteza!

Quando iniciei os trâmites para pedir, pelo caminho judicial, o direito a uma morte voluntária, todos simplificavam o assunto com a frase: Parece que você quer morrer!

Ninguém quer morrer, mas se nos encontramos em uma encruzilhada e já conhecemos o horror que é um dos caminhos, o mais lógico será seguir pelo outro, porque, ainda que não o conheçamos, temos a esperança de que possa ser melhor.

Foi isso que decidi: o caminho que me esperava era – como foi até aqui – horrível. Então decidi seguir pelo outro.

Levo uma bela lembrança de vocês, e espero que conservem uma igual de mim.

Se me querem bem – e eu sei que sim – devem ficar contentes em vez de tristes, pois por fim terminou meu pesadelo depois de tantos anos.

Morrer nada mais é do que se deitar para dormir um longo sono. Que cada um de vocês seja feliz no resto do caminho que lhes resta pela frente. Com paciência, serenidade e o ânimo alegre, tenho certeza de que será assim.

Vale a pena viver a vida enquanto podemos nos servir dela por nós mesmos: quando não puder ser assim, é melhor terminá-la, pois continuar não tem sentido. Essa possibilidade deveria ser um ato de liberdade pessoal, deveria ser mais fácil conseguir ajuda quando dela necessitamos. Isso também seria uma forma de amor!

Perdoem-me por ir embora sem me despedir.

Às vezes demonstramos mais amor por uma pessoa quando lhe oferecemos ajuda para morrer e não para viver.

Amei-os o melhor que pude e soube. Todos vocês me quiseram do mesmo modo. Só posso lhes pagar com a maior mostra de gratidão: morrendo. E vocês, respeitando a minha vontade.

FIM


Links:
http://www.terra.com.br/istoegente/305/diversao_arte/livros_cartas_inferno.htm
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u49062.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u49592.shtml
http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=458
http://www.bravonline.com.br/noticias.php?id=1206
http://www.leialivro.sp.gov.br/texto.php?uid=7290
http://leialivro.sp.gov.br/texto.php?uid=8146
http://www.comciencia.br/resenhas/2005/05/resenha1.htm
http://www.screamyell.com.br/cinemadois/maradentro.htm
http://cinema.uol.com.br/dvd/2005/09/13/mar_adentro.jhtm
http://cinema.uol.com.br/ultnot/afp/2005/03/18/ult2609u2.jhtm
http://cinema.terra.com.br/ficha/0,,TIC-OI5324-MNfilmes,00.html
http://www.cineplayers.com/critica.php?id=410
http://www.zerozen.com.br/video/maradentro.htm
http://canais.ondarpc.com.br/gazetadopovo/cadernog/conteudo.phtml?id=440795


Comments:
Clelia, realmente a historia de Ramon foi emocionante e muito bem feita por Javier Barden, Belen Rueda que sao artistas espanhois de fama internacional. Amenabar descreveu a historia muito real....assisti a pelicula varias vezes e em todas as vezes me emociona.
Voce mais uma vez mostrou que alem de ser inteligente es sensivel..
Um beijo grande do outro lado do Oceano.
P.S.:Eu vivo muito perto aonde foi rodada o filme e onde vivia Ramon.
 
Bélen Rueda... tenho a impressão que foi a primeira vez que vi esta atriz em cena (sabe em quais outros filmes trabalhou?). Ela é muito bonita e expressiva.

Javier é fantástico!

O filme é, realmente, tocante, sensível e não apelativo.

Outra ótima atriz é Lola Dueñas, no papel de Rosa. Ela trabalhou tb em "Volver", o último filme de Almodóvar.

Lembrei-me de você qdo vi que Ramón nasceu e viveu em La Coruña...
 
Tens razao pois realmente ate a[gor somente gravou Mar adentro, es mais atriz televisiva e agora deixa a tv para fazer uma peça de teatro:
Filmografía
Mar adentro (Alejandro Amenábar, 2004)
Televisión
Los Serrano (2002 - 2007)
Periodistas (1998)
Médico de familia (1996)
El gran juego de la oca (1994)
VIP Noche (1992)

Teatro
Closer (2007)

Premios

Premios Goya
Premio Goya a la mejor actriz revelación (2004)

Fotogramas de Plata
Mejor actriz de cine (2004)
Candidata al premio de mejor actriz de televisión (2003)

Unión de Actores
Mejor actriz revelación (2004)


Beijinhos e Feliz Dia Internacional da Mulher

do outro lado do oceano
 
Pra você também...!
bjos, do lado de cá
 
Clelia, com certeza deve saber maas de qualquer forma escrevo: Alejandro Amenabar ganhou Oscar 2005 com o filme Mar Adentro (melhor filme de fala nao inglesa)..
Beijinhos do outro lado do oceano e se tiver um tempinho va ao meu blog que deixei postado uma mensagem a todas as mulheres
 
Sei, sim, na categoria de "Melhor filme estrangeiro".

Se você acessar o site adoro cinema, que coloquei como hiperlink no título do filme, poderá ver:

Premiações:

- Ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, além de ter sido indicado na categoria de Melhor Maquiagem.

- Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, além de ter sido indicado na categoria de Melhor Ator - Drama (Javier Bardem).

- Recebeu uma indicação ao César de Melhor Filme Estrangeiro.

- Ganhou 2 prêmios no European Film Awards, nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Ator (Javier Bardem). Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Roteiro e Melhor Fotografia.

- Ganhou 14 prêmios no Goya, nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Javier Bardem), Melhor Atriz (Lola Dueñas), Melhor Ator Coadjuvante (Celso Bugallo), Melhor Atriz Coadjuvante (Mabel Rivera), Melhor Maquiagem, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora, Melhor Direção de Arte, Melhor Roteiro Original, Melhor Som, Melhor Revelação Masculina (Tamar Novas) e Melhor Revelação Feminina (Belén Rueda). Foi ainda indicado na categoria de Melhor Desenho de Produção.

- Ganhou o Independent Spirit Awards de Melhor Filme Estrangeiro.

- Recebeu uma indicação ao Grande Prêmio Cinema Brasil de Melhor Filme Estrangeiro.

- Ganhou o Grande Prêmio do Júri e o Volpi Cup de Melhor Ator (Javier Bardem), no Festival de Veneza.


Já fui no seu blog, hoje cedo, e vi a mensagem e as rosas vermelhas. Só não comentei, ainda...
 
*



eu não li a obra do sampredo, mas me emocionei muito com o filme, até fiz um post sobre ele no blog.

consegui sentir na pele a angústia que ele vive. e isso me desconsertou.

mas esse é o papel das boas obras, né não?


- que ciúmes da adriana. mora num paraíso -



*
 
Pois é, deve ser um paraíso, mesmo... Tenho muita vontade de conhcer a Espanha. Quem sabe, um dia!
 
eu não li a obra do sampredo

Então, Sean, terá a oportunidade de fazê-lo, agora, através destes trechos que pincei do seu livro...
 
Clelia, terrivelmente comovente....
 
É, sim, Vivien. Comovente, angustiante, desconsertante, tocante... Nos faz refletir, questionar.
 
Daquilo que eu Sei
Ivan Lins & Vitor Martins


Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza

Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo foi concebido

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah! Eu usei todos os sentidos

Só não lavei as mãos
E‚ por isso que eu me sinto
cada vez mais limpo
Cada vez mais limpo
Cada vez mais


Lavar as mãos de
1. Não tomar a responsabilidade de.
2. Furtar-se às conseqüências de.
 
Clelia, ja esta convidada para conhecer La Coruña, Santiago, e tambem onde se rodou Mar Adentro....as portass da minha casa estao abertas....
Estou esperando essa visita....as portas da minha casa sao como meu coraçao estao sempre abertas para pessoas amigas e sensiveis como tu...
A Vivien diz que vem aproveita a viagem...


Beijinhos do outro lado do oceano
 
Grata pelo convite, Adriana! E por abrir as portas da sua casa, assim, generosamente... Se e qdo for a Espanha, irei visitá-la, sim.
bjos, do lado de cá
 
Lembrei-me de um trecho desta linda canção, de Paulo César Pinheiro:

(...) Todos sabem que o meu coração
É uma casa aberta não sei porquê
Portas e janelas dão pra você
Dão, deram e darão(...)


[E lá se vão meus anéis, de
Eduardo Gudin & Paulo César Pinheiro]

 
(...) me emocionei muito com o filme, até fiz um post sobre ele no blog.

Onde, qu'eu não achei??? Vasculhei todo seu blog, Sean, desde o início de 2006... Cadê o seu comentário do filme?
 
http://seanhsean.blogspot.com/2006_05_01_archive.html
14 de maio de 2006

Muralhas e dinamite
A emoção é uma fera pronta para dilacerar a presa com garras e dentes afiados. De tocaia, nos abate na presença de um gesto, de uma palavra, de um filme. Acabo de ver Mar Adentro, de Alejandro Amenábar, uma belíssima ode ao direito de sentir. Não vi quando passou nos cinemas e só agora, numa noite pachorrenta, depois de um dia de muito trabalho, tive a sorte de assistir. A contida carga emocional do filme me acertou com um golpe certeiro.

Javier Bardem interpreta um tetraplégico que luta pelo direito de morrer: há 28 anos não move um único músculo do corpo, enquanto a mente é capaz de sobrevoar campos e navegar no mar. A paralisia que sente não está na falta, mas na saturação: no excesso de sentimento e de possibilidades que nunca serão vividos. Andar, escrever, levar o garfo à boca, tirar o cabelo do rosto, gestos tão corriqueiros e automatizados, são os mesmos que proporcionam o apaziguamento da hipersensibilidade e deixam a vida suportável. Para sentir a vida também é preciso “esquecê-la”.

Apesar da poesia dedicar uma sobrevalorização ao verbo viver, há uma diferença significativa entre viver e sentir. Um está ligado ao ato físico e às sensações decorrentes dessa capacidade. O outro, à emoção e – e por mais paradoxal que seja – à razão que advém desse sentimento. O excesso de sensibilidade leva ao racionalismo, não à paixão.

O racional e o emocional sempre travaram uma luta aberta na minha vida, e o fio da navalha em que se movem deixa marcas tão profundas quanto o ataque de uma fera. A emoção que me inflama frente as coisas mais banais é a mesma que se apaga quando a razão oferece uma forma lógica de sentir. E quando a lógica ergue muralhas, lá vem a emoção com uma carga de dinamite. Dosar essas duas forças é sempre uma busca por transcendência.

Mar Adentro reafirma que viver é a única forma de acalmar o desejo brutal de sentir vida. Longe das grandes paixões, são os pequenos gestos que fazem a razão transbordar de sentimentos. E onde diariamente a vida reafirma seu sentido.
 
Sean,

Acho que não encontrei o post por esperar que houvesse alguma foto ou ilustração do filme nele. Passei batido...!

'brigadão por me mostrar o seu comentário.

"O racional e o emocional sempre travaram uma luta aberta na minha vida,(...). E quando a lógica ergue muralhas, lá vem a emoção com uma carga de dinamite."

Ótima esta idéia!

bjo,
Clélia
 
Nossa quanta sabedoria e que lindo, entrei por curiosidade e gostei muito do que li.Sempre leio seus comentários no blog da minha Amiga Adriana!!!!
Parabéns!!!!
 
Bem-vinda Berenice...
 
Clélia, a Espanha te espera. Adriana (em A Coruña) e eu (em Madrid) te esperamos. Bjs.
 
Obrigada, Thelma!
bjo,
Clélia
 
Ainda respondendo (ou perguntando) ao Sean:

consegui sentir na pele a angústia que ele vive. e isso me desconsertou.

Como? Por que?

- que ciúmes da adriana. mora num paraíso -

Neste caso, não seria "inveja"?
 
*




não, isso se chama alteridade, a capacidade de se colocar no lugar do outro e, com base nisso, saber como interagir com ele.

não tenho inveja do que ele sofreu, não desejo sofrer como ele.

mas tenho capacidade de entender o quanto ele sofreu, e sofrer por ele.

mas não desejo nunca, em momento algum, algo parecido pra mim.




*
 
*



desculpe, achei que vc tava falando do post que fiz sobre o sampedro. mas vc tá falando do meu comentário sobre a fala da adriana.

sim, isso seria inveja. o senso comum usa como 'ciúmes' pra tentar amenizar. foi isso que deixei de explicar lá no meu blog, não fiz a passagem de um para outro. ia dizer que até o shakespeare preferia trocar inveja por ciúmes, mas não fiz. daí ficou cofuso.




*
 
Eu é que interpretei errado o que você falou: consegui sentir na pele (...) achei que tivesse passado por uma situação semelhante, temporariamente, ou coisa assim.

Qto ao ciúme, sim, me referi ao paraíso da Adriana, pois me lembrei da diferença entre ciúme x inveja, dicutida no seu post.

Bobagem minha, remexendo em coisas que já foram ditas... (excluí, inclusive, o recadinho que deixei no seu blog) Desculpe o mal entendido!
 
*



CLÉLIA
não se desculpe, gosto de conversas instigativas, de perguntas, de respostas que precisam ser aclaradas.
não precisa ter apagado, não.
meu blog traz já abertura: 'aberto à discussões, seja lá quais forem'.
debater é comigo.



*
 
Eu já não sou muito boa nisso, Sean...

Valeu, de qquer forma, sua atenção em voltar aqui. Dá um puta trabalho rolar o mouse, ou a barra lateral, até chegar no final deste post pra acessar os comentários!

bjo,
Clélia
 
Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?