terça-feira, novembro 27, 2007
Caymmi, Caetano & Tom
Eu conheci o Dorival Caymmi nos idos de 48/49... Eu ‘tava assim muito empenhado, eu queria ser músico de qualquer jeito, me aproximei dele e depois nos tornamos grandes amigos. O Dorival é um gênio, uma pessoa assim que se eu pensar em música brasileira eu vou sempre pensar no Dorival Caymmi. Ele é uma pessoa incrivelmente sensível, uma criação incrível, eu digo isso sob o ponto de vista musical, sem falar do poeta e do pintor, porque o pintor, inclusive, eu ganhei um quadro dele, eu dei uma flauta pro filho dele e ele me deu um quadro que é uma maravilha. Eu outro dia perguntei a Danilo Caymmi: mas, rapaz, como é que seu pai pinta assim? Ele não estudou. Um negócio! Porque o Dorival é um grande pintor mesmo, não é negócio de brincadeira não, e nas músicas, então, nem se fala, né?
A preta do acarajé
Dorival Caymmi
Dez horas da noite
Na rua deserta
A preta mercando
Parece um lamento...
(Iê abará)
Na sua gamela
Tem molho cheiroso
Pimenta-da-costa
Tem acarajé
(Ô acarajé ecó olalai ó – Vem benzê-ê-em, tá quentinho)
Todo mundo gosta de acarajé (bis)
O trabalho que dá pra fazer é que é (bis)
Todo mundo gosta de acarajé (bis)
Todo mundo gosta de abará (bis)
Ninguém quer saber o trabalho que dá (bis)
Todo mundo gosta de abará (bis)
Todo mundo gosta de acarajé
Dez horas da noite
Na rua deserta
Quanto mais distante
Mais triste o lamento
(Iê abará).
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
A noite que ele não veio foi
Foi de tristeza pra mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi pra mim...
É doce morrer no mar... etc.
Saveiro partiu de noite, foi
Madrugada, não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou...
É doce morrer no mar... etc.
Nas ondas verdes do mar, meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá
É doce morrer no mar... etc.
Foi num dia feliz que nasceu a melodia desta canção. Estávamos vários amigos – entre os quais os inesquecíveis Érico Veríssimo e Clóvis Amorim – reunidos em casa do coronel João Amado de Faria – a quem eu tanto queria – para um daqueles almoços. Em meio à festa e ao calor da amizade compus a toada sobre um tema de "Mar morto", romance dos mestres de saveiro da Bahia. Na mesma hora, Jorge acrescentou alguns versos aos publicados no romance, completando a letra.
[extraído do livro “Dorival Caymmi – Cancioneiro da Bahia”, pp.16, 17]
sexta-feira, novembro 23, 2007
Caymmi, Amado & Carybé (3 irmãos de esteira)
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“O Axé de Opô Afojá, Candomblé de Mamãe Senhora, uniu três pessoas que hoje em dia são três irmãos de esteira – cada um tem uma esteira. Agora, um é Obá Onikoyi, outro é Obá Olorum e o outro é Obá Onoxocum. Em português, seria Dorival Caymmi, Jorge Amado e Carybé. Os três irmãos de esteira. E, aí nos unem laços assim secretos e misteriosos... né? Agora, na vida comum, eu acho que ele é fabuloso. Agora, ele tem uma coisa contra que não consegue fazer os coisas por causa da preguiça, porque o grande inimigo dele é a preguiça, ou amigo, deve ser amigo, mais do que inimigo, porque não há dúvida que preguiça é uma coisa gostosa, né? Com bicho-do-pé, se tiver, ainda melhor. Ele fica lá naquele Rio dos Ostras, comendo ostra, tocando violão, limpando garrucha, punhais, colecionando bengalas... né? Então ele vai levando a vida assim... Pinta um quadrinho, e tal, todos eles são bons, menos o meu retrato, porque o meu retrato é o Retrato de Dorian Gray, que ele vai pegando, assim, cada dois anos, três anos, um ano e meio, né, então, mudo... De repente eu estou mais mocinho, daqui o pouco ele faz um coroco, né? E, enfim, é isso.”
CARYBÉ
preguiça [Do lat. pigritia]
Substantivo feminino.
1. Aversão ao trabalho; negligência, indolência, mandriice.
2. Morosidade, lentidão, pachorra, moleza.
3. A corda dos guindastes.
4. Pau a que estão pregadas as cangalhas da canoura.
5. Bras. Zool. Designação comum aos mamíferos desdentados, bradipodídeos, arborícolas, de pelagem muito densa e longa, membros muito desenvolvidos e cauda rudimentar, assim chamados pela notável lentidão de seus movimentos. Entre os seus pêlos vivem carrapatos e microlepidópteros ou traças. [Sinônimo, nesta acepção: aí, aígue e (PA e MG) cabeluda.]
6. Bras. Zool. V. urutau.
Encontrei, no livro de letras e partituras de Dorival Caymmi, “Cancioneiro da Bahia” [editora Record], este prefácio escrito por Jorge Amado:
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Obá Onikoyi
Jorge Amado
Poeta, compositor e cantor, Dorival Caymmi é hoje a figura principal da música popular brasileira, pode-se dizer que ele é o próprio povo do Brasil em sua voz mais pura, em sua melodia mais profunda e eterna. Diante do baiano inclinam-se respeitosamente os demais mestres de nossa música, de Antônio Carlos Jobim a Vinicius de Morais, de João Gilberto a Paulinho da Viola, de Caetano Veloso a Gilberto Gil, os mais velhos e os mais jovens, os da bossa nova, os do sambão, todos quantos compõem, gravam e cantam.
Dorival Caymmi ultrapassa os sessenta anos de idade cercado pela admiração dos intelectuais e pelo amor do povo. Trazendo nas veias sangue negro e sangue italiano, nascido à beira do mar da Bahia – a Bahia é a célula máter do Brasil, onde a mestiçagem determinou e determina as linhas mestras da cultura nacional –, fez-se o intérprete da vida popular, o bardo cantor das graças, do drama e do mistério da terra e do homem baiano. Ainda adolescente viveu com intensidade, nas ruas, nas ladeiras, nos becos da urbe mágica, a aventura de um povo capaz de sobreviver e ir adiante nas mais duras condições de existência, sobrepondo-se à miséria e à opressão para rir, cantar e bailar, superando a morte para criar a festa. Apoderou-se do drama, da emoção e da magia da cidade sem igual, do povo que liquidou todos os preconceitos e fez da mistura de sangues e raças sua filosofia de vida. Nessa cidade e nesse povo, Caymmi tem plantadas as raízes de sua criação, a precisa realidade, tantas vezes cruel, e a mágica invenção.
Não por acaso ele é um dos doze obás da Bahia, DorivaI Caymmi Obá Onikoyi. Obá significa mestre, ministro, chefe, é o mais alto título, o posto civil mais eminente na hierarquia do candomblé, das religiões afro-brasileiras. Obá de Xangô, no Axé do Opô Afonjá, consagrado de Oxalá, compôs ultimamente uma Oração para Mãe Menininha, canto de amor à mais famosa e venerável mãe-de-santo dos terreiros baianos, Mãe Menininha do Gantois, que é, sem dúvida, a canção mais cantada no Brasil nos últimos anos. Toda a obra musical de Caymmi nutre-se de um conhecimento total da vida popular, conhecimento vivido, pois o poeta não é senão o povo no momento supremo da criação.
Uma família de músicos. A esposa de Caymmi, minha afilhada Adelaide Tostes Caymmi, é a mesma Stella Maris que cantava blues ao micrô das estações de rádio quando, nos idos da década de 30, conheceu o jovem compositor recém-desembarcado no Rio de Janeiro. Do casamento feliz nasceram uma filha e dois filhos. A filha, Nana, é cantora, herdou a maravilhosa voz do pai. Dory, o filho mais velho, é compositor, orquestrador, regente, músico dos mais sérios e respeitados; Danilo, o mais moço, domina uma doce flauta de sonho e suas composições revelam extraordinário talento, espantosa vocação. Não se contentou Dorival Caymmi com sua própria criação inigualável; ainda nos deu, de parceria com Stella, o poema e o canto dos filhos.
Os orixás da Bahia possuem seus favoritos, para eles reservam o dom da criação e a grandeza. Assim aconteceu com o moço Dorival Caymmi. Os orixás cumularam de talento e dignidade esse filho da grande mistura de raças que nas terras brasileiras se processou e se processa, criando uma cultura e uma civilização mestiças que são nossa contribuição para o tesouro do humanismo. Baiano de picardia e invenção, Dorival Caymmi povoou o Brasil de ritmos e de beleza.
[extraído do livro “Dorival Caymmi – Cancioneiro da Bahia”, pp. 5, 6]
mater [Lat., ‘mãe’]
Substantivo feminino
1. Aquela a quem é socialmente atribuído o papel de mãe; mãe social.
bardo 1 [Do celta, pelo lat. bardu]
Substantivo masculino
1. Poeta heróico, entre os celtas e gálios.
2. Trovador; vate, poeta: “Leva-to [o teu nome] além das passadouras eras / Do bardo misterioso o eterno canto” (Almeida Garrett, Camões, p. 113).
bardo 2 [Var. de barda]
Substantivo masculino
1. Cerca de silvado; barda.
urbe [Do lat. urbe]
Substantivo feminino
1. Cidade (1): “Nada se respeitou até agora [na cidade do Rio]. Nenhuma preservação de elementos tradicionais, nenhuma defesa dos valores históricos da urbe.” (Brito Broca, Horas de Leitura, pp. 150-151.)
[Plural: urbes]
picardia [Do esp. picardía]
Substantivo feminino
1. Ação de pícaro.
2. Pirraça, partida.
3. Desfeita, desconsideração.
pícaro [Do esp. pícaro]
Adjetivo
1. Ardiloso, astuto, velhaco, patife, vigarista.
2. Fino, esperto, sagaz.
3. Ver picaresco (1).
Substantivo masculino.
4. Indivíduo pícaro: “Quantos bêbados, vagabundos, jogadores, jactanciosos, pícaros, velhacos, libertinos, .... o são pela inferioridade mórbida do caráter, pela degeneração psíquica que lhes vieram do berço, e se incrementaram com a má educação!” (A. Austregésilo, Obras Completas, I, p. 392.)
5. Liter. Tipo de personagem travessa, bufona, ardilosa, que vive de expedientes, a expensas das várias classes da sociedade. [Feminino: pícara]
Oração de Mãe Menininha
Dorival Caymmi
Ai, minha mãe
Minha Mãe Menininha
Ai, minha mãe
Menininha do Gantois
[bis]
A estrela mais linda, hein?
Tá no Gantois
E o sol mais brilhante, hein?
Tá no Gantois
A beleza do mundo, hein?
Tá no Gantois
E a mão da doçura, hein?
Tá no Gantois
O consolo da gente, ai!
Tá no Gantois
E a oxum mais bonita, hein?
Tá no Gantois
Olorum quem mandou
Essa filha de Oxum
Tomar conta da gente
De tudo cuidar
Olorum quem mandô-ê-ô
Ora, iê - iê - ô...
Quando se comemorou na Bahia o cinqüentenário de mãe-de-santo da venerável Menininha do Gantois, numa festa que congregou todo o povo baiano, fiz parte da comissão promotora dos festejos, ao lado de Carybé, Jorge Amado, Pierre Verger, James Amado e Mário Cravo. Compus então a "Oração de Mãe Menininha", minha homenagem àquela que é a mais doce e bela rainha da Bahia, a que zela pelos orixás e pelo povo baiano com dedicação exemplar.
[extraído do livro “Dorival Caymmi – Cancioneiro da Bahia”, pp. 144, 145]
quarta-feira, novembro 21, 2007
Carybé
Argentina, Itália e Brasil
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Carybé (1911-1997), nome artístico de Hector Julio Paride Bernabó, pintor figurativo brasileiro de origem argentina, cuja estilização gráfica aproximou-se da abstração.
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Nasceu na cidade de Lanús e, após ter vivido na Itália, dos 6 meses aos 8 anos de idade, radicou-se no Brasil, inicialmente no Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes.
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Recebeu o apelido de Carybé (nome de um peixe de água doce), pelo qual é internacionalmente conhecido, na época em que era escoteiro, porque esse era o nome de sua barraca de acampamento.
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Em seus desenhos e aquarelas, predominam a cor sépia, como no álbum Sete portas da Bahia. Além desses trabalhos, destacou-se pela criação de murais, hoje expostos em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Montreal, Buenos Aires e Nova York.
Artista multifacetado
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Também fez ilustrações de obras literárias, como Macunaíma, de Mário de Andrade, O sumiço da santa, de Jorge Amado.
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Exibiu seus trabalhos em mostras coletivas e individuais desde 1940. Entre elas, destacam-se as realizadas no Museu Municipal de Buenos Aires e nas galerias Nordiska, Amalta e Viau, na Argentina; na Galeria Oxumaré, em Salvador; no Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio; e na I Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia.
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Texto extraído do site: http://www.pitoresco.com/brasil/carybe/carybe.htm e ilustrações de vários sites.
http://www.escritoriodearte.com/listarQuadros.asp?artista=3
http://noticias.uol.com.br/licaodecasa/materias/ult1789u665.jhtm
http://www.pitoresco.com.br/espelho/valeapena/caribe/
http://www.pinturabrasileira.com.br/artistas_bio.asp?cod=81&in=1
Obras:
http://www.bolsadearte.com/cotacoes/carybe.htm
http://www.artemmizrahi.com.br/ArtistaExposicao.aspx?cod=8
http://www.galeria22.com.br/paginas_dinamicas/categoria1.asp?iCat=79
http://www.pinturabrasileira.com/artistas.asp?cod=81
CARYBÉ
Jorge Amado
Nessa narrativa, Jorge Amado traz muitos relatos sobre seu grande amigo Carybé, cuja riqueza de vida é quase ficção: aventuras de sobrevivência, casamento, andanças desde Buenos Aires, sua terra natal, até a Bahia.
O artista plástico registrou nas suas obras cenas e cenários muito brasileiros, como vilarejos de pescadores, bailarinas, saídas de igreja e pausas de vaqueiros. Sua obra levou a Bahia mundo afora. Por isso Jorge Amado fala de Carybé como “exemplo notável em sua arte, que recria a realidade do país e da vida popular que ele conhece como poucos, por tê-la vivido como ninguém”.
Editora: Berlendis & Vertecch
ISBN: 8586387061
Ano: 1996
Edição: 30ª
Número de páginas: 64
Coleção: ARTE PARA JOVENS
Links do livro:
http://www.berlendis.com/capeta.htm
http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=173218&ST=SR#javascript;
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=88873
Substantivo masculino. Bras.
1. Alimento preparado com polpa de abacate.
2. Refresco feito com beiju de tapioca.
3. Mingau de farinha fina.