segunda-feira, agosto 06, 2007

 

A redenção do "y"




Não tinha lido esta crônica, do Ruy Castro, na Folha. Arnaldo foi quem me mostrou:

Folha Opinião
São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

RUY CASTRO

A redenção do “y”

RIO DE JANEIRO - Alvíssaras! Enfim na legalidade! Com as mudanças na ortografia da língua portuguesa a partir de janeiro de 2008, o "k", o "w" e o "y", banidos desde 1942, serão reincorporados ao alfabeto. Com isso, posso finalmente andar de cabeça erguida e assinar meu nome -com "y"- em cheques, fichas de hotel e cartelas de restaurante a quilo, para não citar esta coluna, sem a sensação de que estou cometendo falsidade ideológica.

Nascido em 1948, com o "y" já fora da lei, fui registrado Ruy por meu pai, ele também Ruy, e um escrivão distraído deixou passar. Mas você se torna o seu nome e, desde então, tive de defender esse "y" contra os fanáticos e legalistas que insistiam em trocá-lo pelo "i", com o qual me sinto nu em letra de forma.

Os puristas insistiam na alegada inexistência do "y" em português, assim como a do "k" e a do "w", fingindo ignorar que ela fora imposta por decreto e nunca impedira que tais letras continuassem imprescindíveis no dia-a-dia -vide "km" (por quilômetro), "watt" (a unidade de medida da energia elétrica) etc. etc. Se o Aurélio e o Houaiss sempre dedicaram páginas a essas letras, como elas podiam não existir?

Quanto ao "y", o que seria da música brasileira sem ele? Bidu Sayão, Ary Barroso, Aracy Cortes, Aracy de Almeida, Sylvio Caldas, Synval Silva, Alcyr Pires Vermelho, Dorival e os demais Caymmis, Aloysio de Oliveira, a Lyra de Xopotó, Dick Farney, Ivon Cury, Johnny Alf, Nora Ney, Maysa, Cauby Peixoto, Billy Blanco, Celly Campello, Carlos Lyra, Walter Wanderley, Sylvia Telles, Alayde Costa, Leny Andrade, Pery Ribeiro, João Roberto Kelly, Rosemary, o Quarteto em Cy, Joyce, Suely Costa, Baby Consuelo, Moacyr Luz, Daniela Mercury, Yamandú Costa e muitos mais poderiam até existir -mas não seriam os mesmos.


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Outro dia me perguntaram por que eu gostava tanto de ler. Vejamos.
Ler é melhor do que ir ao cinema, viajar ou usar porcarias que tiram o sujeito do sério. Ao ler você produz, dirige e estrela o filme dentro de sua cabeça; viaja sem os inconvenientes da viagem; e penetra em mundos dos quais volta mais humano e mais sábio. Nada expande mais a consciência do que um bom romance ou qualquer livro inteligente.
Pensando bem, ler é a segunda melhor coisa do mundo.
A primeira é escrever.
A que você está pensando é hors-concours.

Ruy Castro


[Pra Rosamaria]



alvíssaras [Do ár. al-ba8Ara(t), ‘boa nova’.]
Substantivo feminino plural.
1. Prêmio ou recompensa que se concede a quem anuncia boas novas ou entrega coisa que se perdera: “Dou a V.M. de alvíssaras, pelas boas novas de Lamego, as mortificações que lhe tenho dado; que esta é a melhor moeda daqueles que em Deus são amigos.” (Fr. Antônio das Chagas, Cartas Espirituais, p. 141.)
Interjeição.
2. Serve para anunciar boas novas. [Cf. alvissaras, do v. alvissarar.]

alvissarar [De alvíssaras + -ar2.]
Verbo transitivo direto.
1. Noticiar a fim de receber alvíssaras.
2. Noticiar, referir, relatar: Alvissarou por toda a cidade a infausta notícia.
3. Deparar, topar, com; encontrar: Pesquisando com paciência, hás de alvissarar muita coisa interessante.
Verbo transitivo direto e indireto.
4. Noticiar a fim de receber alvíssaras: Alvissarei-lhe sua nomeação. [Pres. ind.: alvissaro, alvissaras, etc. Cf. alvíssaras.]

alvissareiro [De alvíssaras + -eiro.]
Adjetivo.
1. Que pede ou dá alvíssaras.
2. Auspicioso: notícia alvissareira; futuro alvissareiro.
Substantivo masculino.
3. Aquele que pede, ou recebe, dá, ou promete alvíssaras.
4. Portador de boas novas.
5. Aquele que anunciava a chegada de um navio à barra e ia pedir ao dono da embarcação as alvíssaras.
6. P. ext. O que anuncia; anunciador; núncio: “À orla dos banhados, as seriemas já algazarram aos pulos, alvissareiras da manhã.” (Vieira Pires, Querência, p. 131.)

hors-concours [Fr., ‘fora de concurso’]
Adjetivo.
1. Apresentado em exposição ou concurso, porém sem concorrer a prêmios, seja por não enquadrar-se nas regras respectivas, seja pela flagrante superioridade em relação aos demais concorrentes.



Links:
http://www.digestivocultural.com/entrevistas/entrevista.asp?codigo=4
http://www.2001video.com.br/entrevista.asp?codcinefilo=92&data=26/09/2006
http://yahoo.guiadasemana.com.br/yahoo/iframe/channel_noticias.asp?id=9&cd_city=1&cd_news=28097


Comments:
Clélia,
Tinha uma tia-avó, irmã de Graciliano, que se chamava Clélia. O nome me desperta carinho, não conheci muitas Clélias.
Gosto muito do Ruy Castro, li a maioria de seus livros.
Fui ao poema do Paulo C. Pinheiro. Adorei os versos:

Agora já acabou tudo que havia.
Já tem asfalto e luz. Virou cidade.
Esse lugar que eu vi é uma saudade.
E a infância que eu vivi uma poesia.

É um achado, que vai ficar guardado.
Beijão
 
Lord,

Conheço poucas também... Sei que meu nome foi homenagem a uma amiga de infância da minha mãe. Tínhamos uma vizinha, D. Clélia, em São José dos Campos, cidade em que nasci. Ainda lá, soube que havia um Clélio, aluno da minha professora de História, do colegial. No vestibular da PUCCampinas, em 1976, conheci uma Clélia, que fez prova na mesma classe que eu. Ficamos amigas.

Do poema de P.C.P., além da estrofe que você destacou, gosto muito também:

Às quatro da manhã meu avô saía.
E quando ele apontava no horizonte,
Entre tanta canoa (minha mãe que o conte)
A dele minha avó sempre sabia.

E lá foi que eu senti de madrugada
Aos treze anos, com a alma inquieta
A sensação de me sagrar poeta.
Maior eu nunca mais senti mais nada.


bjão,
Clélia
 
Sobre "y", digo que ele não me faz falta, pois comigo acontece o contrário: as pessoas tendem a "complicar" meu nome, não aceitando grafá-lo simplesmente Eli, optando sempre por Ely, ou ainda Elly...e por aí vai...
Nome pra mim é um dos primeiros sinais de identidade que temos....assim como família, casa, endereço...
Afinal, desde que somos crianças, perguntam-nos: "Como vc se chama?" "Qual é seu nome?"
Vê-lo descaracterizado é realmente estranho...tanto é que Eli é muito forte pra mim...agora, basta trocar o simples "i" por um internacional "y" que não vejo mais ali.

"...em mundos dos quais volta mais humano e mais sábio."

Sobre preferir escrever a ler....digo também o contrário: prefiro ler mesmo, meus textos se muito, os publico em um blog por ae. E só!

Bj Clélia!
:-]
 
Clélia
Obrigada, querida, pela homenagem! Pode ser que seja um incentivo pra mim.Fico feliz por seres minha amiga!

Tinha uma tia muito querida com o teu nome. Ela ficou viúva aos 32 anos, com dois filhos, e foi morar conosco. Foi uma segunda mãe para mim.

Bjs.

PS: Acho que vou fazer minha cirurgia no início de setembro.
 
Simplesmente Eli, sem "y" ou "l" dobrado!

Também prefiro ler a escrever, mas, pr'um escritor, o inverso é bastante compreensível. Como tb não sou...

bjo,
Clé
 
Cara Rosa,

Pensei exatamente nisso: um incentivo, um estímulo!

Espero que corra tudo bem na sua cirurgia e que sua recuperação seja rápida e tranqüila! Mantenha-nos informados...

bjo,
Clé
 
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