quinta-feira, janeiro 11, 2007

 

CORA CORALINA (I)


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Em Meu livro de cordel, Cora Coralina escreve sobre Neruda:

PABLO NERUDA (I)

Perdoa-me poeta.
Tão tarde o conheci!
Tantos cantores do mundo...
Para minha ignorância
eras mais um dentre eles.

Foi assim que não pedi a Deus
poupar-te a vida
e ficares para sempre
semente viva, incorruptível,
de beleza excelsa e universal.

Ninguém me disse antes.
Ninguém me disse nada.
Ninguém me fez a doação fraterna
de um livro teu.

Perdida no meu sertão goiano,
Só o teu nome, Pablo
Só o teu apelido crespo, Neruda,
Chegaram a mim...
E eu a pensar que foste apenas
um grande poeta entre outros grandes...

Foi assim que não pedi ao Criador
Poupar-te a vida
e ficares para sempre.
Semente viva e luminosa,
sementeira e semeador,
semeando o pão e o vinho
da tua poesia
na terra faminta, desolada e triste.


PABLO NERUDA (II)

Poeta. Partiu-se para sempre
a cadeia de ouro que enleava
tua cabeça, teus braços
e torso de gigante.

Manda um raio de tua fronte ungida
à minha inteligência oclusa,
à minha mente obtusa.

Amarrada em cordas grossas.
Pássaro depenado em sujo cativeiro,
Asa cortada de impossível vôo.

Minha pequenina poesia...
Pobre, se arrastando no esforço
de alguém que pela vida
vai empurrando,
vai rolando um tronco pesado
de madeira encharcado,
sem valor e sem destino.

Manda-me de Temuco,
onde pousaste para sempre,
uma pluma de tuas asas abatidas
para que eu possa alcançar com ela
acima,
muito acima
do meu vôo curto e rasteiro.


PABLO NERUDA (III)

Poeta. Quando te foste para sempre
plangeram os sinos da
terra e silvaram todas as sirenas
dando aviso no universo.

Partiu-se o fio de ouro filigrana
da tua poesia universal.
Em que estrela remota
terá pousado tua cabeça
de poeta total?

Grande cantor das Américas,
domador insigne desse potro
bravio que descantas.
lndomado ao buçal e ao freio
com que tentam quebrar
sua rebeldia xucra.

Grande poeta.
Teu corpo gélido vai se desintegrando
molécula após molécula
na terra fria de Temuco,
e vai se integrando de novo
no grande todo universal.
E eu o vejo comandando
no etéreo todos os potros
indomados da Terra.



apresentação:

Meu Livro de Cordel

Pelo amor que tenho a todas as estórias
e poesias de Cordel, que este livro assim
o seja, assim o quero numa ligação
profunda e obstinada com todos os anônimos
menestréis nordestinos, povo
da minha casta, meus irmãos do nordeste
rude, de onde um dia veio meu Pai para
que eu nascesse e tivesse vida.


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